Recém-premiada com o Nobel da Paz, María Corina Machado transformou o símbolo máximo do diálogo em palco de intransigência. A líder opositora venezuelana rejeitou nesta semana qualquer tentativa de mediação proposta por Luiz Inácio Lula da Silva para pacificar a crise política em Caracas — exigindo a saída imediata de Nicolás Maduro antes mesmo de qualquer conversa.
O gesto, vindo de quem acaba de ser reconhecida mundialmente por promover a paz, expõe o paradoxo de uma laureada que nega o próprio princípio do prêmio que ostenta. Enquanto defende sanções e pressão externa sobre o governo venezuelano, Machado se afasta do campo diplomático e se aproxima do discurso das elites e do capital internacional que sustentam sua projeção.
Apesar de se apresentar como porta-voz da liberdade, María Corina Machado há anos se distancia das pautas populares e das maiorias empobrecidas da Venezuela. Com trajetória política enraizada na elite econômica, ela foi deputada pelo partido Vente Venezuela, contrário a programas de redistribuição de renda e defensora da privatização da PDVSA, a estatal do petróleo que sustenta grande parte da economia nacional.
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Sua recusa ao diálogo não apenas desmonta o ideal de reconciliação defendido pelo Nobel, como reforça o impasse de uma oposição que fala em democracia, mas age com a lógica do confronto.
Documentos divulgados pelo The Intercept e pela BBC Mundo mostram que Machado manteve reuniões e recebeu apoio financeiro de think tanks ligados à Fundação Nacional para a Democracia (NED), braço de influência dos Estados Unidos, e articulou sanções que agravaram o desabastecimento de alimentos e remédios no país.
Nas regiões mais pobres, como Barinas e Anzoátegui, pesquisas do Centro de Estudios Políticos y de Gobierno da Universidade Católica Andrés Bello indicam que menos de 18% da população a considera representante legítima dos venezuelanos.
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