Em um dos bairros mais elitizados de São Paulo, cuidadoras infantis da Praça Buenos Aires deram um passo significativo na organização coletiva contra a desvalorização profissional. A chamada “tabela da babá”, amplamente discutida em grupos de WhatsApp do bairro, representa mais do que uma lista de preços – configura-se como um manifesto pela dignidade do trabalho doméstico. A informação foi divulgada em reportagem do R7.
A iniciativa, que estabelece valores entre R$ 7 mil e R$ 8 mil mensais para babás residentes, surge como resposta à histórica precarização que atinge majoritariamente mulheres trabalhadoras. O movimento evidencia como a articulação coletiva pode confrontar relações de trabalho tradicionalmente assimétricas, commonmente marcadas pela informalidade e pela falta de reconhecimento financeiro.
As profissionais fundamentam sua reivindicação na qualificação técnica: “Somos profissionais na área, com diplomas, curso e qualificações”, afirmam em mensagem circulada nos grupos. A exigência de cesta básica, vale-transporte e alimentação adequada reforça a busca por condições trabalhistas que condizem com a complexidade da função – que inclui desde cuidados com recém-nascidos até funções de motorista.
O fato de a mobilização ocorrer justamente em Higienópolis, reduto da elite paulistana, acrescenta camadas à discussão. Expõe as contradições de um sistema onde famílias de alto poder aquisitivo frequentemente se beneficiam de baixa remuneração para serviços essenciais. A resistência organizada nessas circunstâncias demonstra que a conscientização classista pode florescer mesmo em ambientes historicamente dominados pelo poder patronal.
O caso ilustra como a organização coletiva representa instrumento crucial contra a exploração do trabalhador. Ao estabelecer parâmetros comuns e recusar-se a aceitar condições inadequadas, as babás não apenas buscam melhorias individuais, mas fortalecem a posição negociadora de toda uma categoria profissional tradicionalmente vulnerabilizada.
A iniciativa em Higienópolis ressoa como exemplo de como a união da classe trabalhadora – mesmo em setores altamente fragmentados como o doméstico – pode reverter assimetrias seculares e reivindicar o justo valor do próprio trabalho.
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