O Senado brasileiro deu um passo crucial em defesa da moralidade e da transparência, rejeitando por unanimidade a chamada “PEC da Blindagem”. A decisão, tomada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), não apenas sepultou a proposta, mas também demonstrou uma rara sintonia com o clamor popular que, nos últimos dias, tomou as ruas do país.
A PEC não era apenas mais uma emenda constitucional; era uma afronta direta à Justiça e à confiança dos cidadãos. Sob o pretexto de garantir a independência dos parlamentares, o texto tentava ressuscitar um mecanismo de impunidade, blindando congressistas de investigações e processos criminais. O histórico é claro: entre 1988 e 2001, quando uma regra similar existia, o Congresso protegeu seus membros em mais de 250 casos, autorizando apenas uma única ação.
Esse retrocesso era inaceitável. A proposta, aprovada pela Câmara, enviou um sinal perigoso: o de que o poder legislativo estaria disposto a se colocar acima da lei. Felizmente, a rápida e firme reação popular e de entidades da sociedade civil mostrou que a população não aceita mais esse tipo de manobra. As manifestações, a pressão nas redes sociais e o posicionamento de diversos partidos foram decisivos para que a PEC fosse vista pelo que realmente era: uma ameaça à democracia e um convite aberto à corrupção.
A decisão da CCJ foi um ato de responsabilidade. O relator, senador Alessandro Vieira, e a maioria dos parlamentares entenderam que a proposta não defendia o mandato, mas sim a impunidade. O arquivamento unânime é uma vitória significativa para a ética na política e um sinal de que, quando a sociedade se mobiliza, ainda é possível barrar o avanço de propostas que servem a interesses escusos, e não ao bem público.
Que essa vitória sirva de lição. A rejeição da PEC da Blindagem é um lembrete de que a vigilância cidadã é a primeira linha de defesa contra o retrocesso. Mas é também um apelo para que o Congresso Nacional reavalie suas prioridades.
Em vez de gastar tempo e recursos em pautas que beneficiam apenas a si mesmos, os parlamentares precisam voltar a se dedicar a legislar sobre os problemas reais que afligem a vida dos brasileiros: o custo de vida, geração de emprego e renda, a violência, a educação de qualidade e o acesso à saúde. A população espera que os seus representantes se dediquem a construir soluções, e não a criar barreiras que os separem da lei. A democracia se fortalece quando os eleitos dedicam seu mandato ao povo, e não a si próprios.
Gabi Sabino
Doutoranda em Economia e Mestre em Políticas Públicas