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“Uterina” reflete sobre o luto e a descriminalização do aborto no Brasil

A artista compartilha com o público a reconstrução poética de um acontecimento que revirou sua vida. (Foto: David Bellavance Ricard)

Em 2021, Flavia Couto enfrentou uma situação difícil: no quinto mês de uma gravidez muito desejada, descobriu que sua filha tinha a síndrome de Patau, trissomia incompatível com a vida extrauterina fetal. A partir do diagnóstico, a artista decidiu interromper a gestação e para isso teve que submeter uma petição judicial para que uma figura de poder decidisse sobre seu corpo.

A experiência foi o ponto de partida para o seu novo espetáculo, “Uterina”, que estreia no dia 8 de agosto, às 19h, no Complexo Cultural Funarte, em São Paulo (SP), com temporada até 31 de agosto, com sessões às sextas e sábados às 19h e domingo às 18h. Em setembro, o Teatro Arthur Azevedo, também em São Paulo, recebe a peça entre os dias 11 e 21, às quintas, sextas e sábado às 20h e domingo às 18h.

Flavia teve sorte: com ajuda de uma advogada, em pouco tempo conseguiu interromper a gravidez com autorização de uma juíza mulher. No entanto, ela sabe que muitas não conseguem ajuda e acabam se submetendo a abortos clandestinos sem nenhuma segurança, arriscando suas vidas e sujeitas a serem criminalizadas.

(Foto: David Bellavance Ricard)

“Uterina” é uma peça teatral interlinguagens, na interação com o cinema, dança e artes plásticas.

Quando o projeto surgiu, ele tinha o peso do luto e da revolta com as leis no Brasil, que não deixam as mulheres tomarem decisões a respeito dos seus corpos. Mas, no meio do processo, fui atravessada por algo maravilhoso: a gravidez da minha segunda filha. Então, outros sentimentos, como a alegria, ganharam destaque na obra

conta Couto.

Partindo dos seus diários e escritas de si, a artista compartilha com o público a reconstrução poética de um acontecimento que revirou sua vida. Traduzir em imagens tantos sentimentos complexos foi desafiador para Flavia. Mesmo assim, conforme relia seus escritos, certas ideias surgiram naturalmente para ela. Durante o luto, a atriz fez muitas viagens e a presença do mar se tornou muito importante.

Outro elemento importante no espetáculo para além das imagens e sonoridades é uma ampulheta do tempo no formato de saco gestacional que escorre seus grãos indicando essa efemeridade da vida. Esse adereço faz movimentos em espiral e desenha a passagem do tempo e seus movimentos para trás e para frente, nos conectando simbolicamente com o passado e com o que virá. O cenário foi idealizado por Flavia Couto e Pedro Guilherme e cria simbolicamente em cena esse espaço uterino, o princípio gerador da vida dando a dimensão contínua tempo que não para.

Nas minhas investigações, descobri a dança Moribayassa, uma tradição do povo Malinké – originário da África Ocidental, especialmente da Guiné e de Mali -, que é justamente sobre mulheres superando situações difíceis. Assim, consegui poeticamente em cena expor esse caminho de cura e reinvenção

relembra.

SERVIÇO

Uterina
Classificação: 14 anos
Duração: 60 minutos

COMPLEXO CULTURAL FUNARTE
Data: 8 a 31 de agosto de 2025
Endereço: Alameda Nothmann, 1058 – Campos Elíseos, São Paulo/ SP
Ingresso: cota gratuita para pessoas de baixa renda, meia entrada R$20 e inteira R$ 40. Reservas Sympla
Capacidade: 60 lugares

TEATRO ARTHUR AZEVEDO – SALA MULTIUSO
Data: 11 a 21 de setembro de 2025
Endereço: Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca, São Paulo/ SP
Ingresso: gratuito. Retirada 1h antes do espetáculo
Capacidade: 50 lugares
Acessibilidade: espaço possui acessibilidade para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

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Aquiles Marchel Argolo

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