Em uma mais uma medida que pode desencadear uma guerra comercial cultural, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira, 29, um plano agressivo para “proteger” a indústria cinematográfica estadunidense. A proposta inclui a imposição de uma tarifa de 100% sobre filmes estrangeiros.
O anúncio tem como suposto objetivo reverter o que Trump chamou de “perda de competitividade” de setores que já foram a espinha dorsal da economia dos EUA. No entanto, a medida é amplamente vista como um movimento protecionista radical. Ele não ofereceu dados para justificar as afirmações.
Ao justificar a taxação de 100%, Trump afirmou que o negócio de filmes “foi roubado” por outros países, em um processo que comparou a “tirar doce de criança”.
Essa retórica visa um “problema de longa data e sem fim”, segundo ele, enfrentado por Hollywood: a crescente concorrência de polos cinematográficos como Canadá, Reino Unido e países que oferecem incentivos fiscais agressivos, atraindo produções que tradicionalmente seriam feitas na Califórnia.
Como normalmente faz, o Republicano apontou um inimigo como culpado, dessa vez o governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom. Sem mencionar seu nome, o presidente o chamou publicamente de “fraco e incompetente”, responsabilizando-o por não proteger o setor audiovisual em seu próprio estado.
A acusação é um ataque estratégico ao coração político e cultural dos democratas. A Califórnia não é apenas o berço de Hollywood, mas também um bastião de resistência a Trump. Ao vincular a suposta decadência da indústria à liderança de Newsom, o presidente busca enfraquecer um de seus principais opositores e agradar sua base eleitoral, que vê em Hollywood um símbolo de valores liberais.
O que Trump parece não levar em conta é que o Reino Unido e o Canadá, que abrigam grandes estúdios de produção, podem responder com tarifas semelhantes sobre exportações culturais dos EUA, prejudicando ainda mais a indústria. Vamos lembrar que grande parte dos filmes de Hollywood usam cenários estrangeiros devido aos incentivos fiscais e diminuição de custos, além da variação de plano de fundo.
Em vez de “trazer empregos de volta”, a medida poderia incentivar ainda mais a terceirização, já que os estúdios buscariam maneiras criativas de burlar as tarifas, aprofundando o problema que Trump diz querer resolver.
A indústria do entretenimento, tradicionalmente crítica a Trump, deve reagir com veemência à proposta, que é vista menos como uma política econômica pragmática e mais como uma declaração mimada de uma personalidade que se diverte com decisões aleatórias
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