O Templo de Salomão, sede da Igreja Universal do Reino de Deus na zona leste de São Paulo, tem sido palco frequente de encontros de soldados da Polícia Militar do Estado. Em fevereiro, o espaço foi utilizado pela Escola Superior de Soldados da PM para acolher integrantes que participaram da Operação Verão, que matou dezenas de jovens na Baixada Santista.
Na época, em reportagem do Metrópole, a Universal contou que o tema abordado foi “saúde emocional”, com orientações voltadas aos policiais.
Já em 25 de junho, uma reunião interna do 11º Comando de Policiamento de Área Metropolitana (CPAM-11) da Polícia Militar de São Paulo foi realizada em um templo da Igreja Universal do Reino de Deus, no Brás, zona leste da capital. Centenas de policiais foram convocados obrigatoriamente para o evento, que abrangia todo o efetivo do 8º e 11º Batalhões Metropolitanos.
O coronel João Alves Cangerana Junior, comandante do 11º CPAM, informava que seriam tratados “assuntos exclusivamente de trabalho”. No entanto, durante o encontro, o próprio coronel fez discurso destacando a importância da religiosidade para os policiais.
Uma reunião interna do 11º Comando de Policiamento de Área Metropolitana (CPAM-11) da Polícia Militar de São Paulo foi realizada nesta terça-feira (25/6) novamente no templo da Igreja Universal do Reino de Deus no Brás. Centenas de policiais foram convocados obrigatoriamente para o evento, que abrangia todo o efetivo do 8º e 11º Batalhões Metropolitanos.
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Dentro dessa visão holística, eu entendo também que a gente deva professar alguma religião. Não por uma questão mística — até estamos em um templo, e a gente deve honrar os templos —, mas sim pela importância da religiosidade para a humanidade. A religião traz valores que são importantes e coadunam com os valores da Polícia Militar. Então, também considero importante a saúde espiritual
afirmou Cangerana no local, situado a poucos metros do Templo de Salomão, principal sede da Universal.
A escolha de um espaço religioso para uma reunião oficial de caráter obrigatório demonstra a completa indiferença da corporação policial militar sobre a separação entre Estado e religião. A escolha por um templo da igreja pentecostal reforça também a ausência de neutralidade institucional, reforçando a imagem de uma instituição que não enxerga todos os cidadãos como iguais, tampouco se coloca na posição obrigatória de respeitar a laicidade constitucional.
Sempre que procurada, a PM-SP não responde ou emite notas protocolares que dizem muito pouco.
Para você ter um casamento perfeito, bons filhos, bons relacionamentos sociais, ter diálogo com a sociedade que você convive diariamente, colega de trabalho, comandante, esposa, filho, você precisa mudar a cabeça, mudar o racional, mudar os pensamentos. E isso se faz lendo a Bíblia. A Bíblia diz assim, e não é religião não, é a Bíblia, os pensamentos de Deus são mais altos e mais sábios do que os dos homens
afirmou o pastor Roni Negreiros em uma das reuniões com os PMs na Universal.
Enquanto há quem negue a ligação direta entre a ascensão neopentecostal e o crescente radicalismo político da direita, eles aparelham as forças de segurança e doutrinam policiais para enxergarem tudo que não seguir suas crenças como inimigos.
Reportagem recente do Intercept apurou que policiais ateus, católicos ou de outras religiões, que não aceitam ir às reuniões nos templos evangélicos, são perseguidos por seus superiores e transferidos de função. Mais assustador ainda é que batalhões inteiros da Polícia Militar comparecem aos “cultos militares” fardados, com carros de suas corporações e, não raro, em horário de serviço.
Ou se freia a sanha militarista pentecostal ou uma “Gestapo brasileira” se oficializa.
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