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Renda baixa e racismo impedem conclusão do ensino básico, diz pesquisa

(Foto: Jose Cruz/Agência Brasil)

O racismo estrutural e a busca por renda aparecem como barreiras que impedem jovens e adultos de concluir a educação básica no Brasil. Essa é a conclusão de Diogo Jamra, gerente de Monitoramento, Avaliação, Articulação e Advocacy do Itaú Educação e Trabalho, a partir da pesquisa Educação de Jovens e Adultos: Acesso, Conclusão e Impactos sobre Empregabilidade e Renda, divulgada recentemente pela Fundação Roberto Marinho em parceria com o Itaú Educação e Trabalho.

O país tem hoje um perfil de pessoas negras e de baixa renda que compõem os 66 milhões, com mais de 15 anos e fora da escola, que não concluíram a educação básica. Precisamos lidar com isso. O programa Educação de Jovens e Adultos [EJA] precisa entender que o público que vai atingir tem majoritariamente esse perfil

disse em entrevista à Agência Brasil.

Especialista em políticas de educação e trabalho, Jamra afirma que muitos jovens não terminam os estudos na idade adequada porque precisam trabalhar. Para ele, é fundamental articular políticas que garantam a educação básica justamente às pessoas que enfrentam mais obstáculos.

Uma iniciativa do governo federal como o programa Pé-de-Meia tende a dialogar com isso

afirmou Jamra.

Ele também ressaltou a influência de fatores históricos, relacionados ao passado escravocrata do país, no acesso à educação.

A população negra é excluída das políticas públicas por uma questão histórica racista, de um racismo estrutural. [Essas pessoas] vão sendo empurradas para fora dessas políticas que não dialogam com elas

declarou o gerente.

Com base em microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), o estudo mostra que concluir a EJA amplia a formalização no mercado de trabalho e melhora a renda da população jovem, entre 19 e 29 anos.

Evasão de jovens e adultos

A pesquisa analisou evasão no ensino regular, retorno aos estudos e permanência na EJA. Foram observados três grupos: jovens de 15 a 20 anos matriculados no ensino regular; jovens de 21 a 29 anos que estavam fora da escola sem concluir a educação básica; e adultos de 21 anos ou mais matriculados na EJA.

O levantamento aponta que, entre 15 e 20 anos, a evasão no ensino regular é mais frequente que a migração para a EJA. O risco de abandono cresce em situações como idade avançada no ensino (18 a 20 anos), ser homem, negro, morar em área rural, ter baixa renda e trabalhar.

Já no grupo de 21 a 29 anos sem ensino básico completo e fora da escola, a probabilidade de matrícula na EJA é maior entre mulheres e desempregados. Entretanto, assumir a responsabilidade pelo domicílio, viver em áreas rurais ou estar empregado reduz essa chance.

Entre os matriculados na EJA, a pesquisa indica que mulheres têm menor risco de evasão, mas aquelas com filhos apresentam mais chances de abandonar. Outros fatores, como idade mais avançada, jornadas de trabalho acima de 20 horas semanais, responsabilidade pelo domicílio e morar em áreas rurais também elevam a probabilidade de desistência.

Para Jamra, os números reforçam a urgência de fortalecer políticas públicas que alinhem a EJA às necessidades de quem corre mais risco de evadir, especialmente os que precisam trabalhar.

A necessidade de trabalhar é, ao mesmo tempo, um fator que contribui para a evasão escolar e uma motivação para o retorno às salas de aula desse grupo

disse Jamra.

Investimento na EJA

Segundo o especialista, União, estados e municípios precisam dar prioridade ao ensino de jovens e adultos para garantir o direito constitucional à educação.

A gente percebe que essa política nunca teve uma centralidade no desenho das políticas educacionais. A gente precisa agora trazê-la para o centro do debate. E, ao fazer isso, precisará de um maior investimento

comentou o gerente.

Ele defende ainda inovação pedagógica para criar modelos educacionais mais adequados à realidade desse público.

A gente precisa que a academia desenvolva novas propostas pedagógicas, metodologias que estejam adequadas ao perfil desse público, com metodologias inovadoras, com pedagogia de alternância, porque tem [também] uma população concentrada no meio rural

disse.

Jamra destacou também o papel estratégico da EJA para quem busca retomar os estudos.

Integrada à Educação Profissional e Tecnológica, [a EJA] pode contribuir ainda mais para que os jovens brasileiros concluam os estudos, tenham a possibilidade de agregar conhecimentos que os prepare para a inserção produtiva digna e, assim, tenham mais perspectivas de melhoria de condições de trabalho e, consequentemente, de vida

opinou.

Os resultados mostram que, entre jovens de 19 a 29 anos, concluir a EJA aumenta em 7 pontos percentuais as chances de conquistar um emprego formal e eleva, em média, 4,5% a renda mensal. O impacto é maior entre os que têm de 19 a 24 anos: nesse grupo, a formalização sobe 9,6 pontos percentuais e a renda, 7,5%.

É essencial a consolidação de políticas públicas e ações intersetoriais que garantam o acesso à EJA com EPT [Educação Profissional e Tecnológica] em todo o país, só assim conseguiremos oferecer a milhares de jovens trajetórias de vida com mais dignidade, renda e proteção social

concluiu.

*Matéria publicada originalmente na Agência Brasil.

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