Um projeto voluntário que em 18 anos atendeu cerca de 200 mil estudantes com cursinhos pré-vestibulares totalmente gratuitos, com média de aprovação de 60%, e sem um centavo de dinheiro público ou apoio privado. Isso existe e se chama Rede Emancipa. Nascida em Itapevi, na região metropolitana de São Paulo, a rede foi criada por um grupo de professores que fazem esse trabalho sem qualquer remuneração, comprometidos com a transformação social e política de seus alunos.
Tudo começou por volta de 2006, quando o cursinho mantido por estudantes da Poli da Universidade de São Paulo (USP) – que até então era gratuito – resolveu começar a cobrar uma taxa dos alunos. Os fundadores professores Taline Chaves, Alex da Mata e Bruno Magalhães rejeitaram a proposta e decidiram fundar no ano seguinte um cursinho totalmente gratuito, o “Cursinho Popular Chico Mendes”.
Com o tempo, o projeto se expandiu e a partir de 2017, houve uma “virada teórica, conceitual, pedagógica”, transformando a Rede Emancipa de um “movimento social de cursinhos populares pré-vestibulares” para um “movimento social de educação popular pré-universitário”.
Conscientização política e senso crítico

Desde então, ao invés de apenas mais um cursinho que prepara estudantes para o vestibular, a Rede Emancipa passou promover também a conscientização política e o senso crítico de seus alunos.
A finalidade da Rede Emancipa, a partir da educação popular, é conseguir promover um espaço de pensamento, enfim, de reflexão sobre a realidade
explica o coordenador nacional do projeto, Lucas Castro.
Essa evolução levou o projeto a se desdobrar em uma série de frentes que refletem sua agenda política. Entre eles está o “Emancipa Axé”, que trabalha na articulação de comunidades religiosas de matriz africana para a luta contra o racismo. O “Emancipa Saúde” é formado por profissionais de saúde que defendem o SUS, que promovem o debate sobre temas como o aborto e as políticas de redução de danos para dependentes químicos.
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Alcance nacional

Hoje, o movimento está presente em dez estados brasileiros, com cerca de 60 núcleos. Atualmente, o Rede Emancipa defende o fim dos vestibulares. O que pode parecer uma contradição, na verdade é parte de uma luta pela universalização do ensino superior.
A universalização e a permanência. Porque não adianta só chegar e não ter condições de se manter na universidade
afirma Lucas.

Para nós o vestibular não tem que existir. A Rede Emancipa é um movimento que a gente constrói para que ele acabe
aponta Lucas.
O projeto não tem financiamento externo ou remuneração. Todo o trabalho é realizado por ativistas e militantes da educação, a partir de um “compromisso real de vida com a educação”, detalha o coordenador.

A filosofia central do movimento é baseada na pedagogia Paulo Freire.
Bookmark“A leitura de mundo precede a leitura da palavra”, é um dos conceitos que norteia o “Emancipa”
completa Lucas, citando um dos conceitos básicos da filosofia de Freire.