Nas últimas semanas, diante da aproximação da condenação definitiva e decretação da prisão de Jair Bolsonaro, advogados e aliados do ex-presidente – auxiliados por boa parte da imprensa – têm disseminado a versão segundo a qual ele estaria enfrentando problemas de saúde graves que indicariam a necessidade de mantê-lo detido em casa, e não enviado a um presídio como o da Papuda.
De outro lado, a mesma imprensa têm divulgado um périplo incessante de visitas de políticos a Bolsonaro em sua prisão domiciliar. E nessa outra versão, o ex-presidente despe a fantasia do “coitadinho” de saúde frágil, e veste a de articulador político mobilizado para preparar seu grupo para as eleições de 2026.
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É de lá que o ex-presidente tem fomentado, por exemplo, as discussões para a escolha dos candidatos da extrema direita ao Senado. Não é segredo para ninguém que o objetivo desse campo político na disputa do ano que vem é tomar o controle da chamada “Câmara Alta”, o que significaria o poder para, entre outras coisas, promover o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, e assim “emparedar” o Judiciário para permitir que Bolsonaro seja anistiado por seus crimes e possa voltar à cena política.
As contradições também se revelam no discurso dos próprios filhos do ex-presidente, especialmente no do senador Flávio Bolsonaro e do seu irmão, deputado Eduardo Bolsonaro. Ambos são enfáticos em defender a anistia ao pai, alegando que “sem Bolsonaro não tem eleição”.
Afinal, partindo desse princípio, o que vale? O Bolsonaro “alquebrado” e “frágil”, que por isso, não pode ir para a Papuda, ou o líder político com plena capacidade de articulação de uma candidatura para tentar voltar à Presidência?
Na prática, manter Bolsonaro em prisão domiciliar seria transformar esse instituto em um instrumento de promoção da impunidade. Quem pode fazer campanha presidencial e articular candidaturas às eleições não tem justificativa para ser preservado do justo cumprimento das consequências legais de seus crimes.
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