Um despacho do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), assinado em 3 de setembro para exonerar às pressas o então secretário estadual de Esporte, Rafael Picciani (MDB), é alvo de análise da Polícia Federal (PF). Agentes consideram que essa seria a primeira evidência documental da atuação do chefe do Executivo fluminense na investigação sobre as relações do Comando Vermelho (CV) com o Palácio Guanabara.
O ato, que obrigou a publicação de uma edição extraordinária do Diário Oficial no mesmo dia em que o ex-deputado TH Joias foi preso por suspeita de lavagem de dinheiro e vínculos com chefes da facção, tinha como objetivo imediato forçar a saída de TH Joias da Alerj, evitando assim que a Casa votasse pela manutenção ou relaxamento de sua prisão, conforme determina o regimento.
Na prática, com a exoneração de Picciani, ele retomaria seu mandato como primeiro suplente, substituindo automaticamente TH Joias (segundo suplente) e tirando o parlamentar preso do cargo. A manobra, descrita em fontes da investigação como uma “ação obstrutiva”, visava um “controle de danos” para “desvincular a imagem da Alerj” do investigado, que era aliado político de Castro e frequentava eventos oficiais.
Estratégia eleitoral, segundo Moraes
Na decisão que determinou a prisão do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, nesta quarta-feira (3), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sugeriu que a movimentação teria relação com a preservação de votos para 2026. A manobra buscaria “a manutenção do vínculo desses agentes políticos com o Comando Vermelho, facção responsável pelo maior controle territorial do Estado do Rio de Janeiro, o que se traduz em milhões de votos no pleito eleitoral que se avizinha”.
No dia da exoneração, Castro foi às redes sociais anunciar que Picciani retomava o mandato para substituir TH Jóias, “preso hoje em ação conjunta das polícias”.
Alexandre de Moraes determinou ao governo do Rio que forneça todos os logs de acesso aos sistemas online que tramitaram a exoneração de Picciani, incluindo horários e usuários responsáveis. Também solicitou à Imprensa Oficial os dados referentes ao pedido da edição extraordinária de 3 de setembro.
Em nota, o governo do Rio afirmou que o retorno de Picciani à Alerj “estava programado para que ele participasse das votações do pacote de projetos do governo do Estado voltados ao fortalecimento da segurança pública”. A defesa de Castro nega qualquer irregularidade.
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