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PARAÍSO DO NORTE – Prefeito roqueiro e progressista desafia conservadorismo em plena terra do agro

O prefeito Beto Vizzotto. (Foto: Prefeitura de Paraíso do Norte/Divulgação)

Paraíso do Norte é uma pequena cidade de 14 mil habitantes do Noroeste do Paraná, a 530 quilômetros de Curitiba. Teria tudo para ser mais um pontinho perdido no mapa em meio a uma região dominada pelo agro, não fosse o fato de ser governada há quase duas décadas pelo Partido dos Trabalhadores, em um estado onde Jair Bolsonaro foi o mais votado em 286 dos 399 municípios no segundo turno da eleição presidencial de 2022.

Aos 64 anos e em seu quarto mandato, o prefeito Beto Vizzotto (PT), desafia o status quo vigente e ostenta resultados que explicam como o município se tornou um enclave progressista em um ambiente tradicionalmente conservador.

Filho de um pedreiro e de uma professora, Vizzotto começou a se envolver na política ainda no ensino médio. No final dos anos 70, já integrava a Liberdade e Luta (Libelu) – uma tendência do movimento estudantil ligada ao trotskismo. O engajamento o levou a participar da fundação do PT quando ainda cursava Agronomia em Florianópolis (SC).

Meu pai era da Arena, mas sempre foi um humanista

A opção pela esquerda não foi muito bem recebida inicialmente pela família. O pai, Alvo Vizzotto, que chegou a presidir a Câmara de Vereadores local e sempre foi de centro-direita, não gostou quando descobriu que o filho estava em um congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes, em Salvador, ainda em pleno governo militar.

Apesar disso, o tempo acabou acalmando os ânimos entre eles.

Meu pai era da Arena (partido de apoio ao governo militar), mas sempre foi um humanista com profunda preocupação social

conta.

Aos 14 anos, a descoberta do rock

Aos 14 anos, ao mesmo tempo em que dava os primeiros passos no movimento estudantil e na política, Beto descobriu o rock influenciado por um agrônomo com quem trabalhava. Já na década seguinte, de volta a sua cidade natal, começou a organizar bailinhos em que, em meio a sambas e outros ritmos populares, inseria músicas do Creedence Clearwater Revival (clássica banda de southern rock dos anos 60) e outros artistas roqueiros no set list das festas, ainda sem imaginar que essa paixão renderia frutos no futuro.

Apoio do governo Lula garantiu obras e seguidas reeleições

(Foto: Prefeitura de Paraíso do Norte/Divulgação)

Em 2004, Vizzotto foi eleito vice-prefeito na chapa encabeçada por um titular do MDB, José Sebastião Marinelo. Em 2008, chegou pela primeira vez ao comando da prefeitura.

Com o apoio do governo Lula, conseguiu atrair investimentos significativos para a infraestrutura, educação e saúde da cidade, que lhe garantiram a reeleição como candidato único em 2012. Em 2016, elegeu o sucessor, Laércio de Freitas, também do PT. Em 2020, voltou novamente ao cargo, sendo reconduzido quatro anos depois.

A continuidade se reflete nos resultados da administração. Em Paraíso do Norte, 100% das crianças estão matriculadas nos centros de educação infantil em tempo integral. No ensino fundamental, 70% dos alunos também são atendidos nessa modalidade de ensino, com a previsão de chegar a 90% em 2026. Todas as ruas da cidade têm pavimentação asfáltica, assim como 30% das estradas rurais.

Paraíso do Rock

(Foto: Prefeitura de Paraíso do Norte/Divulgação)

Mas é na cultura que Vizzotto mostrou uma visão ainda mais inovadora e inusitada para uma região em que a música dominante é o sertanejo. No mesmo ano em que chegou a primeira vez à chefia da administração municipal, ele resolveu trazer para se apresentar na cidade na comemoração do aniversário do filho a banda independente curitibana Terminal Guadalupe.

O sucesso foi tanto que o que era para ser apenas mais uma festa acabou se tornando um festival perene: o “Paraíso do Rock”, que em 2025 está chegando a sua décima quarta edição. Curiosamente, o local dos shows é a sede do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) que tem como “patrão”, o irmão do prefeito.

O evento começou modesto e foi expandindo sua proposta. Já nas primeiras edições procurou misturar estilos (apesar do “rock” no nome), levando música do Norte e Nordeste do Brasil, bem como dos países vizinhos (Argentina, Paraguai e Uruguai).

(Foto: Prefeitura de Paraíso do Norte/Divulgação)

O festival já contou, em seu lineup, com propostas tão diferentes quanto Siba, Maciel Salu, Banda Eddie, Matanza, Nevilton, Buenos Muchachos (URU), Molina y Los Cósmicos (URU), Trotsky Vengarán (URU), Deficiente (PY), Valle de Muñecas (ARG), Explusados (ARG), El Zombie (ARG), Bestia Bebé (ARG), Bidê ou Balde, Cachorro Grande, e muitos outros – até o australiano Jarrah Thompson passou por lá

Em todas as edições, o lucro é revertido para o CEMIC (antiga Associação de Proteção à Maternidade e à Infância), que realiza atividades educacionais no contraturno da escola pública. A ideia é levar o máximo de informações culturais diferentes para uma área que é ignorada pelo resto do país, e mesmo do Estado.

“Não tem receita mágica. É resultado e um pouquinho de sorte”

Vizzotto credita o sucesso das administrações petistas na cidade aos resultados práticos na vida da população.

Mesmo com a polarização política nacional, a população percebeu a mudança positiva na cidade, o que resultou na nossa reeleição em 2020 e 2024 sem esconder a ligação com o Lula ou o PT

diz.
(Foto: Prefeitura de Paraíso do Norte/Divulgação)

Não tem receita mágica. Ganhamos porque tinha escola para todas as crianças. Mas é claro que também é bom um pouco de sorte

brinca.

Vizzotto conclui, lembrando que, quando chegou à prefeitura pela primeira vez, em 2008, dez anos antes da eleição de Bolsonaro, essa radicalização ainda não estava tão presente como atualmente.

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Ivan Santos

Jornalista com três décadas de experiência, com passagem pelos jornais Indústria & Comércio, Correio de Notícias, Folha de Londrina e Gazeta do Povo. Foi editor de Política do Jornal do Estado/portal Bem Paraná.

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