O cineasta Bernardo Bertolucci morreu em 2018, um mês após a vitória do fascista Bolsonaro, na ausência de Lula.
Oscarizado por “O último imperador” (1987), Bertolucci assinou duas obras muito didáticas sobre o fascismo, a primeira das quais o instigante “O Conformista” (1970), adaptação algo limitada do belo romance homônimo de Alberto Moravia.
Em “O Conformista”, o protagonista Marcello Clerici (Jean-Louis Trintignant) sofre um abuso sexual na infância que estará na origem psicológica de sua submissa adesão ao fascismo, a qual lhe levará ao extremo da barbárie e (no livro) à tragédia.
Já em “1900” (“Novecento”, de 1976), a epopeia se desenrola na oposição política entre personagens próximos que se antagonizam a partir da ascensão de Mussolini e inclui uma sequência de verdadeira brutalidade fascista.
Os personagens Attila (Donald Sutherland) e Regina (Laura Betti) violentam sexualmente um menino e o matam com requintes de crueldade. E, exatamente como o bolsonarismo faz, ambos incriminam pela atrocidade um militante de esquerda, Olmo (Gérard Depardieu).
A violência sexual fascista contra menores não se limita à literatura e ao cinema, ou ao tio de Michele Bolsonaro. É uma constante derivada da visão social de mundo (leia-se “ideologia”) hierárquica e desigual. Veja-se o pedófilo ditador Trump.
Fascistamente coerente, Trump é racista, misógino e imperialista. Destituiu o general ocupante do principal posto militar dos EUA (chefe do estado-maior conjunto) por ser negro e demitiu a almirante comandante da guarda-costeira por ser mulher.
Quanto a “imperialismo”, Dinamarca, Canadá, México e Brasil, dentre muitos outros, aprenderam do monstro alaranjado o quão atual é essa categoria tão bem trabalhada por Lênin.
Racismo, misoginia e imperialismo, e ainda a homofobia e a intolerância política, têm por raiz comum irracionais delírios supremacistas, do tipo “povo escolhido”, “destino manifesto” e “raça superior”. Com tais olhos, o fascista enxerga subordinados, mulheres e crianças, como reses cuja existência tem por propósito único sua satisfação pessoal.
Para Trump e seus bolso-símiles, a carne humana é mercadoria, sendo a negra a mais barata e a de crianças loiras a mais cara. E nunca faltaram comerciantes de escravizados para atender às sanhas impublicáveis dos endinheirados.
Por anos o arquicriminoso Jeffrey Epstein, falecido em 2019, forneceu aos bilionários mais de quinhentas menores de idade, gado destinado à perversão de quem podia pagar.
Além de um jato Gulfstream, Epstein mantinha para o delivery de menores a ricaços, um Boeing 727 batizado de “Lolita Express”. E o facínora se gabava de que a primeira relação sexual entre Trump e a agora primeira-dama Melania, se dera a bordo da aeronave.
As correspondências entre trumpismo e bolsonarismo identificáveis em esposas-contrato, prostituição de menores e “pintou um clima”, demandam uma séria reflexão sobre os reais motivos da campanha fascista contra “ideologia de gênero” e educação sexual nas escolas.
Infelizmente, refletir não é um hábito das dezenas de milhares de famílias-rebanho que se manifestaram a favor de mais uma intervenção dos EUA, desta vez para que Washington dite o que o Judiciário brasileiro deve fazer.
Por falar em juízes, em razão da violência sexual na famosa cena de seu “O último tango em Paris” (1972), na qual Marlon Brando violentou Maria Schneider, o inequivocamente culpado Bernardo Bertolucci foi condenado à perda de direitos civis e políticos por 5 anos.
Condenação promovida pelo mesmo judiciário italiano que hoje altivamente trava embates contra o governo fascista de Giorgia Meloni.
É o tipo de independência judicial que o pedófilo Trump não quer.