Cheguei na metade da expectativa de vida de um brasileiro, segundo o IBGE. Tenho um trabalho que me satisfaz, um filho saudável, esperto, afetuoso — daqueles que brilham por onde passam. Em outras palavras, tenho todos os privilégios que facilitam a vida de um pai. E talvez justamente por isso eu enxergue o que muitos ainda não veem.
A maioria dos pais que não precisa lutar por inclusão… simplesmente não luta. Escola acessível? Pra quê, se meu filho anda bem? Linguagem simples? Ele entende tudo! Rampas? Ele sobe escadas! A luta pela inclusão parece sempre ser do outro. Do pai da criança autista. Da mãe do menino com paralisia cerebral. Da família da jovem surda.
Mas enquanto a inclusão for vista como uma causa alheia, ela continuará sendo exclusão disfarçada de progresso.
Outro dia, conheci a história de um menino chamado Pedro. Ele é cadeirante e foi convidado para o aniversário do colega de sala, o Miguel. A festa era num buffet com escadas na entrada e sem banheiro adaptado. A mãe de Miguel, sem maldade, disse:
Ah, não pensei nisso… ele vai mesmo?
Pedro não foi. E o pior: ninguém notou sua ausência.
Essa é a indiferença que machuca. A exclusão sutil, cotidiana, que passa batida.
Inclusão de verdade começa quando quem não precisa passa a lutar por quem precisa. Quando todos entendem que uma sociedade justa não se constrói com conforto individual, mas com consciência coletiva.
Porque o contrário de inclusão não é exclusão.
É indiferença.
E isso, definitivamente, é o maior problema de todos.
Professor Sampaio
Pai dedicado, especialista em Inclusão e Neuroaprendizagem, mestrando em Educação e Tecnologia, cursando formação internacional QASPS e criador do Método PAE (Paciência, Amor e Empatia). Educador, pesquisador e consultor apaixonado por educação inclusiva, treinamentos e consultorias, comprometido em construir um futuro mais justo e acolhedor para todos.