Já dizia o sociólogo Jessé de Souza em evento que organizamos em 2019 no Instituto de Altos Estudos da América Latina, na Sorbonne Nouvelle, em Paris: “Bolsonaro é o maior canalha da história do Brasil”. E olha que houve muita gente mau caráter no país.
Basta fazer um pequeno retorno à sua história recente, de sua declaração no voto de impeachment golpista contra Dilma Roussef à articulação de golpe nos tempos recentes. Podemos também citar seus atos mais atuais de traição à pátria, implorando a Donald Trump para aplicar sanções contra o Brasil e prejudiciais ao povo brasileiro, como as taxas exorbitantes aos produtos de exportação e o bloqueio da aplicação PIX, além de ingerência na autonomia nacional.
Voltemos a abril de 2016, no voto do impeachment de Dilma, o inominável, ainda deputado, disse :
Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas (..), o meu voto é sim
Na luz do dia, fazia elogios a torturadores, o que é um negacionismo incompatível com o Estado de direito. Na França, negar o holocausto é crime. No Brasil, elogiar torturadores também deveria ser.
Na sequência, foi eleito insultando pessoas, banalizando o estupro, menosprezando o lugar da mulher na sociedade, afrontando o Estado laico, fazendo injúrias racistas e contra quilombolas, se aproximando de milicianos, proferindo ódio contra pessoas LGBTQ+. Uma vez presidente, ridicularizou as vítimas do COVID. No filme Apocalipse nos Trópicos de Petra Costa (2025), disponível na Netflix, temos o desprazer de ouvir de novo suas frases como “chega de mimimi” e “morrer, todo mundo vai morrer um dia”, como resposta ao desespero das pessoas durante a pandemia, perdendo parentes, amigos, na angústia com a sua própria saúde e vida. Não esqueceremos.
No relatório da CPI da COVID do Senado Federal de 2021 (Aqui: relatório covid), Bolsonaro é acusado de 10 crimes, dentre eles, prevaricação, charlatanismo e crime contra a humanidade. Aproximadamente 700 mil mortos. Houve mortos em outros países também, muitos. Mas no Brasil, o cenário foi de omissão do chefe de Estado brasileiro, negacionismo, falta de socorro às vítimas, talvez até mesmo de forma proposital. Homicidio doloso ou culposo? A questão pode ser levantada para se discutir a responsabilidade imensa de Jair Bolsonaro.
Neste mês, Bolsonaro e outros 7 são julgados por 5 crimes relacionados com a tentativa violenta de abolição do Estado de direito.
Lembremos que tudo começou com seu descrédito do sistema eleitoral. Com fake news e revelações, como presidente, de investigação sigilosa da Justiça. Tudo isso com o intuito de desacreditar as urnas, as eleições, as instituições democráticas. Sem provas e, pior, com tentativa de forjá-las. Por esses delitos, o inominável se tornou inelegível, embora, em outra declaração obscena, gostaria de ser chamado de “imbrochável”. Lamentável!

Quando contamos esse histórico aqui na França, as pessoas arregalam os olhos, não acreditam em tamanha imoralidade, estupidez e violência. Como pode? E não para por aí.
Além disso, durante o seu mandato, foram descobertas rachadinhas dos gabinetes de familiares e parlamentares próximos, lavagem de dinheiro envolvendo a primeira dama (lembra da Micheque?) e compra de mais de 50 imóveis com dinheiro líquido, o que ainda não se explicou.
Em ato no dia 7 de setembro de 2021, B. disse, sobre o fim do seu mandato: ““Só saio preso, morto ou com vitória. Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso!” Ali, podíamos adivinhar que um golpe se tramava. E assim foi.
Assim tentou até o último minuto a Polícia Rodoviária Federal, bloqueando rotas no dia das eleições do segundo turno no nordeste, onde Lula era amplamente favorito.
Jair, derrotado pelo voto, nunca reconheceu e não passou a faixa. Na sua fuga para os Estados Unidos em dezembro de 2022, cometeu mais dois crimes: fraude do seu próprio cartão de vacina (imaginem um presidente que falsifica documento de saúde pública!) e venda de jóias roubadas, presentes que pertenciam ao tesouro brasileiro (e um presidente ladrão de jóias!).
Como se não bastasse, um pouco antes, sentou-se à mesa com seus assessores mais próximos, ministros e autoridades das forças armadas em reunião cuja pauta era tentar assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Alckmin e o Ministro do Supremo Alexandre de Moraes, como já dito, mas nunca é demais lembrar!
Certamente, esteve envolvido na incitação aos atos na frente dos quartéis, pedindo golpe de Estado. Esses atos culminaram na invasão da praça dos 3 poderes, com as destruições físicas e simbólicas que conhecemos. A sua fuga para os Estados Unidos era, como relatou a imprensa, uma forma de forjar um álibi e esperar o desfecho do 8 de janeiro (Ver: aqui).
Com tornozeleira eletrônica e em prisão domiciliar, agora está em julgamento, respondendo por uma parte dos seus crimes, pelo gravíssimo atentado à democracia. Não esqueceremos nada. Não à toa as palavras amnésia e a anistia (do grego amnestia) têm a mesma raiz. Bolsonaro deve ser condenado. Que a justiça seja justa, mas a pena que receber ainda será pequena tendo em vista seu “breve histórico”. Desta vez, tem que ser: sem amnésia e sem anistia!