Uma manifestação melancólica ocupou alguns degraus da escadaria da Universidade Federal do Paraná, no último domingo (21). Não foi propriamente uma manifestação, foi mais uma minifestação, capitaneada por gente que tenta fazer os paranaenses acreditarem no absurdo: que a UFPR é inimiga do povo. O fracasso desse ato escancara uma verdade: os paranaenses sentem profundo orgulho da Federal. Os antolhos da ignorância impedem que tristes figuras como Deltan Dallagnol, Guilherme Kilter e Jeffrey Chiquini percebam essa obviedade.
Com cerca de 40 mil alunos atualmente – entre graduação e pós-graduação – e mais centenas de milhares que já passaram por seus bancos ao longo de mais de um século, a universidade é parte íntima da vida do povo do estado. Esse orgulho se manifesta em cada família paranaense que vibra quando um jovem é aprovado no vestibular e conquista o direito de estudar em uma das instituições mais respeitadas do país.
Ataques à UFPR não são uma novidade. Em 2019, já haviam sido lançados, alimentados pelo próprio governo federal, sob o comando de Jair Bolsonaro. Naquele momento, publiquei um artigo na Gazeta do Povo em defesa da Universidade. Agora, diante da reciclagem dos ataques, nada mais justo que reciclar também a defesa.
Enquanto seus detratores atacam, os paranaenses se orgulham da instituição que há 40 anos realizou, pelas mãos dos médicos Ricardo Pasquini e Eurípedes Ferreira, o primeiro transplante de medula óssea do país. Desde então, o Hospital de Clínicas se tornou destino de pacientes que depositam ali suas maiores esperanças de vida.
Sem a universidade, nós, paranaenses, saberíamos muito menos sobre nossa história e sobre a terra em que vivemos. Pesquisadores como Reinhard Maack, Riad Salamuni, João José Bigarella, Ygor Chmyz, Oldemar Blasi e Cecília Westphalen revelaram um Paraná até então desconhecido, contribuindo para que a ciência feita aqui alcançasse reconhecimento internacional.
Centenária, a Universidade consolidou áreas de pesquisa que seguem acolhendo gerações de cientistas destacados. Na química e bioquímica, Metry Bacila e Glaci Zancan abriram caminhos que hoje são trilhados por pesquisadoras como Elisa Orth, referência internacional em estudos sobre os impactos dos agrotóxicos.
No campo das Humanas, alvo preferencial dos ataques mais rasos, a UFPR segue produzindo excelência. O curso de Letras, por exemplo, já teve como professor Cristóvão Tezza, um dos maiores romancistas contemporâneos, e abriga hoje Caetano Galindo, que além das respeitadas traduções de James Joyce e David Foster Wallace, apresenta ao Brasil a história da língua portuguesa; e Guilherme Gontijo Flores, que não só traduz os clássicos do latim e do grego como faz o esforço de popularizá-los com o grupo Pecora Loca.
Aqueles que tentam diminuir a UFPR apenas reforçam a grandeza que não conseguem alcançar. O povo do Paraná sabe: sua Universidade não é inimiga, é patrimônio. E mais do que isso: é orgulho coletivo, é motor de conhecimento e desenvolvimento. A Universidade Federal do Paraná é do povo – e o povo abraça a sua Universidade.