Apenas 42 dos 99 mortos identificados após a Operação Contenção, deflagrada no Rio de Janeiro na última terça-feira (28), tinham mandados de prisão em aberto — menos de 43% do total, segundo dados do próprio governo estadual.
Apesar de a ação ter sido anunciada para cumprir 100 ordens judiciais contra lideranças do Comando Vermelho nos complexos da Penha e do Alemão, o saldo mostra que a maioria dos mortos não era alvo direto da operação.
Entre os identificados há pessoas com antecedentes, mas sem denúncia formal no procedimento que embasou a ofensiva, além de ao menos 40 oriundos de outros estados — um quadro que reforça a hipótese de que parte dos atingidos eram moradores, militantes de base ou recrutas de baixo escalão pegos em área de conflito, e não os chefes que o governo dizia mirar.
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Em números: o estado falava em 100 prisões, cumpriu cerca de 20, matou mais de 120 pessoas e, desse total já identificado, só 42 tinham mandado ativo — uma proporção que, em qualquer protocolo de uso da força, acende alerta de seletividade e excesso.
Essa assimetria entre o objetivo formal e o resultado letal é o que coloca a operação no radar da ADPF das Favelas e de organismos internacionais. Quando o número de mortos supera com folga o de alvos judicializados, cresce a suspeita de execuções sumárias, falha na triagem dos perfis e aplicação de uma lógica de “território inimigo” sobre populações civis.
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