Apesar de estar em prisão domiciliar desde o último dia 4 de agosto, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) manobrou pessoalmente, mesmo que à distância, a tomada de controle pela oposição ao governo Lula, da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) aberta pelo Congresso nesta semana, para investigar as fraudes nos descontos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
As “digitais” de Bolsonaro no processo ficaram evidentes no pedido feito pela defesa do ex-presidente ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, na noite de terça-feira (19), para que o deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) fosse autorizado a visitá-lo em sua residência em Brasília onde cumpre a prisão domiciliar.
Enquanto isso, o deputado Sóstenes Cavalcante, líder do PL – partido de Bolsonaro – se reunia com a bancada da legenda e de outros partidos de oposição para articular nomes de consenso da extrema-direita para os dois principais cargos da CPMI.
Poucas horas depois, na quarta-feira (20), dois parlamentares oposicionistas foram eleitos presidente e relator da comissão: respectivamente o senador Carlos Viana (Podemos-MG) e Alfredo Gaspar.
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Relator já tentou livrar ex-presidente de ação por tentativa de golpe
Os antecedentes de Gaspar falam por si só. O parlamentar foi o relator do pedido de suspensão na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, do processo contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), por tentativa de golpe de Estado. O parecer de Gaspar também tentava abrir caminho para bloquear a ação contra o próprio Bolsonaro.
A artimanha só não vingou porque a Primeira Turma do STF restringiu a decisão aos crimes cometidos após a diplomação, o que manteve em andamento no Supremo os processos por golpe de Estado, organização criminosa armada e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito contra Ramagem e Bolsonaro.
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