Pesquisa Ipsos-Ipec mostra um recuo preocupante no apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. A porcentagem de pessoas que dizem ser favoráveis à união caiu de 44% para 36% em 2025
Toni Reis, fundador do Grupo Dignidade e presidente da Aliança Nacional LGBTI+ foi um dos primeiros homens a se casar com outro homem após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2011, que reconheceu a legalidade das uniões homoafetivas no país. Na última terça-feira (29), foi divulgada a pesquisa Ipsos-Ipec, que mostra um recuo preocupante no apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil.
A porcentagem de pessoas que dizem ser favoráveis à união caiu de 44% para 36% em 2025. Esse é um dos dados mais significativos da nova edição do levantamento, que mede o conservadorismo da sociedade brasileira em temas como legalização do aborto, pena de morte, prisão perpétua para crimes hediondos e redução da maioridade penal.
Mas para Toni, apesar da queda, o cenário atual ainda reflete avanços significativos se comparado às últimas décadas.
Existem as pessoas que não são nem contra e nem a favor, que são 13%. Então nós temos quase 49% de apoio. E é mais ou menos a base que nós temos de que apoia a comunidade LGBTQIA+
afirmou Toni.
Em 1992, nós tínhamos apenas 5%. Então, aumentou muito. E numa cultura que pregava que na idade média era para sermos queimados na fogueira, depois era crime ser LGBTQIA+ até 1830 e até maio de 1990 era doença, eu vejo que o nosso apoio tá muito grande
acrescenta.
Toni avalia que essa “pequena queda” pode estar relacionada a uma reação conservadora que tem se intensificado no país, com discursos organizados contra a população LGBTQIA+ ganhando espaço em parte da sociedade.
Essa pequena queda é devido a uma campanha de setores da sociedade contra a nossa comunidade. Mas é um direito já consolidado e tem aumentado cada ano os casamentos. Então, deixa o povo falar, deixa o povo ter opinião. Quem tem que aceitar o casamento gay é quem foi pedido em casamento
destaca.
Sobre os fatores que influenciaram diretamente essa mudança de opinião registrada na pesquisa, Toni aponta o avanço de discursos religiosos conservadores, mas destaca que o movimento está em diálogo constante com esses setores.
Nós estamos conversando com setores da sociedade. Houve muitas fake news sobre a nossa comunidade. Então, nós estamos aí com essas mensagens, que somos favoráveis a todas as famílias, inclusive a tradicional. Não queremos transformar absolutamente ninguém em gay, somos totalmente contra a exploração de crianças adolescentes, somos todos contra a pedofilia. Essas informações distorcidas sobre a nossa comunidade muitas vezes chegam a setores da sociedade que acabam nos discriminando
comenta o ativista.
- 25 de Julho: da liderança de Tereza de Benguela à luta das mulheres negras e quilombolas
- Negra Li é atração principal do Festival Afro de Curitiba; entrada é gratuita
- Violência contra mulheres bate recorde histórico em 2024
Apesar do retrocesso estatístico, Toni faz questão de reforçar a importância de manter o ânimo e a organização política da comunidade LGBTQIA+. Para ele, a resposta deve vir com resiliência e ação.
A gente tem que se organizar, lutar pelos direitos. Eu tenho 61 anos, estou casado há 35 anos com o meu esposo. Tivemos o primeiro casamento gay depois da decisão do STF e fomos o primeiro casal gay a conseguir a adoção na Suprema Corte. Nós não temos que desanimar, a gente tem que ter resiliência, erguer a cabeça e falar: ‘Sou cidadão, mereço ser feliz e pago meus impostos, cumpro meus deveres como cidadão, quero todos os meus direitos, nem menos nem mais, direitos iguais’
argumenta
Quanto ao impacto concreto do recuo no apoio, Toni considera que, embora o preconceito ainda exista, os direitos conquistados permanecem assegurados e precisam ser protegidos com vigilância e denúncia.
Eu creio que o impacto é mínimo, porque a discriminação, infelizmente, sempre existiu. Se houver um crime concreto, uma discriminação concreta, uma violência concreta contra um casal LGBTQIA+, nós devemos denunciar. Mas eu não vejo como impactante, até porque todos são iguais perante a lei sem discriminação de qualquer natureza. É um processo de evolução
analisa.
Toni avalia que o dado pode fazer parte de uma oscilação momentânea, inserida num contexto maior de polarização e conservadorismo, mas não vê nisso um ponto sem volta.
BookmarkEu percebo que a sociedade está ficando mais conservadora. Nós tivemos o período do rock and roll, da bossa nova, agora nós estamos num período mais conservador. E isso é natural se a gente vai estudar a história, mas isso vai passar
finaliza.