O assassinato de seis jornalistas, sendo cinco da rede al-Jazeera, em Gaza, no último domingo (10), expôs ainda mais o desprezo por qualquer vida vindo da parte do governo Israelense. Segundo o Comitê de Proteção de Jornalistas (CPJ), uma ONG voltada à defesa da liberdade de imprensa, foram 192 profissionais mortos desde outubro de 2023, superando os números das duas Guerras Mundiais em quase três vezes.
Um dos mortos no ataque de domingo foi Anas al-Sharif, acusado por Israel, sem evidências concretas, de ser parte da ala militar do Hamas. Em julho, ele se defendeu das alegações dizendo que “não eram apenas uma ameaça midiática ou uma destruição da imagem, mas sim uma ameaça real à vida”.
Em janeiro, quando o primeiro cessar-fogo entrou em vigor, Anas Al-Sharif fez um gesto que correu o mundo: diante das câmeras da Al Jazeera, tirou lentamente seu colete à prova de balas e capacete, peça por peça, enquanto uma multidão em êxtase o carregava nos ombros. Sete meses depois, o repórter de 28 anos, pai de dois filhos e rosto da cobertura palestina da guerra, foi morto por um ataque israelense.
- Israel inicia invasão de Gaza e bombardeios já deixam 123 mortos em apenas um dia
- Madonna convoca Papa Leão XIV para ir à Gaza interceder pelas crianças que estão sendo chacinadas
- Quatro profissionais da Al Jazeera morrem em bombardeio israelense
Al-Sharif tornou-se o correspondente mais emblemático do território sitiado. Suas reportagens diárias para a Al Jazeera, muitas vezes transmitidas de hospitais superlotados ou escombros fumegantes, mostraram os cessar-fogo efêmeros e a libertação de reféns; fome generalizada que levou crianças a comerem folhas de árvores; e os ataques a Jabalya, sua cidade natal, onde perdeu o pai num bombardeio.
Israel o perseguiu desde fevereiro, quando oficiais ligaram para seu WhatsApp durante uma reportagem ao vivo: “Você tem minutos para sair dali e parar de trabalhar para a Al Jazeera”. Minutos depois, o local foi atingido. Na semana passada, as IDF o acusaram de comandar uma “célula do Hamas”, alegação rejeitada pela ONU. Como “prova”, divulgaram fotos dele com Yahya Sinwar (líder do Hamas morto em 2024), ignorando que, como jornalista, entrevistou figuras de todos os lados.
Na véspera de morrer, Al-Sharif escreveu:
BookmarkMinha única missão é relatar a verdade. Num Gaza faminto, isso se tornou uma ameaça
declarou.