A nova edição do Dossiê Mulher expõe um retrato contundente da escalada da violência contra mulheres no Rio de Janeiro, especialmente no ambiente digital. Em dez anos, os registros de perseguição e assédio virtual saltaram de poucas dezenas para quase três mil casos, um avanço que evidencia como a internet se tornou um canal frequente para agressões, geralmente cometidas por parceiros ou ex-companheiros.
Embora o ambiente digital tenha impulsionado novas formas de ataque, a violência psicológica continua sendo o eixo central do problema: em 2024, esse tipo de abuso atingiu mais de 56 mil mulheres, o que equivale a 153 vítimas por dia.
Ao longo do ano, mais de 154 mil mulheres sofreram algum tipo de violência no estado, uma média de 18 vítimas por hora. A maioria dessas agressões aconteceu dentro de casa e foi praticada por alguém do convívio imediato, reforçando a dificuldade das vítimas em romper ciclos de abuso e buscar ajuda.
O estudo mostra ainda que 22 mil mulheres foram submetidas a mais de um tipo de violência simultaneamente, combinando, por exemplo, agressões físicas e psicológicas.
- Bancada Feminista do PSOL pede abertura de CPIs para investigar feminicídios
- Plano de R$ 2,5 bilhões do Governo Federal patina e feminicídios seguem em alta
- OMS: 840 milhões de mulheres no mundo foram alvo de violência
O cenário se agrava quando se observa o feminicídio. Em 2024, 107 mulheres foram mortas por motivo de gênero no Rio. A maior parte dessas vítimas era negra, tinha entre 30 e 59 anos e muitas eram mães. Quase dois terços dos crimes ocorreram dentro da residência da vítima, e em 13 episódios os filhos presenciaram o assassinato. Em boa parte dos casos, havia histórico prévio de violência, mas sem registro formal em delegacias.
As violações sexuais seguem entre as mais graves: mais de cinco mil mulheres foram estupradas no estado ao longo do ano. Mesmo assim, aumentou a rapidez com que as vítimas têm buscado ajuda, sinalizando maior confiança nos serviços de atendimento.
Diante desse quadro, o governo estadual destaca ações de prevenção e acolhimento, como programas educativos, atendimento itinerante em áreas vulneráveis e iniciativas voltadas à responsabilização de agressores. A meta é fortalecer a rede de proteção e reduzir um ciclo que, como mostra o Dossiê, permanece profundamente enraizado no cotidiano fluminense.
Bookmark