A Polícia Civil do Rio Grande do Sul realizou, na manhã desta quinta-feira (5), uma operação para cumprir seis mandados de busca e apreensão em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. A ação faz parte de um inquérito que apura denúncias de abate irregular de cães na Secretaria de Bem-Estar Animal do município. Segundo os investigadores, a ex-secretária da pasta, Paula Lopes, recolhia animais de rua, utilizava as redes sociais para divulgar imagens deles e arrecadar doações via Pix, mas, em vez de encaminhá-los para adoção, promovia o sacrifício dos bichos.
A delegada Luciane Bertolletti explicou que o caso começou a ser investigado após denúncias de servidores sobre aumento significativo de eutanásias na pasta: cerca de 240 animais teriam sido mortos em oito meses. De acordo com os depoimentos colhidos pela investigação, os animais eram sacrificados de maneira recorrente, sem respaldo médico-veterinário, e com o aval da então secretária responsável pela pasta.
Um dos servidores da secretaria apresentou à polícia um dossiê contendo registros fotográficos e descrições de cães que desapareceram sem explicação. Parte desses animais havia sido resgatada nas ruas ou entregue por famílias em situação de vulnerabilidade, com a expectativa de que fossem destinados à adoção. As apurações também revelaram que gatos eram mantidos em condições irregulares, confinados em contêineres. Durante o cumprimento dos mandados, os agentes localizaram cães e gatos mortos dentro de sacos plásticos guardados em um freezer. Os corpos foram recolhidos e encaminhados para exames periciais.

Paula Lopes foi exonerada do cargo em 18 de agosto e é investigada por maus-tratos a animais e estelionato. Em sua residência, na Zona Sul de Porto Alegre, foram apreendidos R$ 100 mil em dinheiro. Mandados também foram cumpridos na casa de uma veterinária que prestava serviços à secretaria e na residência de um homem suspeito de transportar os corpos dos animais.
Em nota oficial, a Prefeitura de Canoas declarou estar à disposição das autoridades policiais e confirmou a abertura de um processo administrativo interno para investigar o caso de maneira criteriosa.
Trajetória da ex-secretária
Paula Lopes construiu sua imagem pública nas redes sociais como protetora de animais, onde frequentemente aparecia ao lado de cães e gatos doentes ou com deficiência, solicitando doações para custear tratamentos. Sua atuação ganhou maior repercussão durante a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul, quando passou a abrigar animais resgatados da tragédia. A visibilidade obtida nesse período foi um dos fatores que a levaram a assumir a Secretaria de Bem-Estar Animal de Canoas, em janeiro de 2025.

Segundo Vladimir da Silva, presidente da Rede de Proteção Ambiental e Animal, os depoimentos reunidos na investigação apontam para uma conduta sistemática e violenta dentro da secretaria. De acordo com ele, animais recolhidos com a promessa de tratamento ou adoção eram eliminados sem necessidade clínica, apenas como forma de reduzir despesas e desafogar o espaço destinado ao abrigo.
Em vídeo, Paula Lopes negou as acusações, atribuindo-as a motivações políticas, e afirmou que pretende esclarecer os fatos. O caso segue em investigação, e novas informações devem ser divulgadas à medida que as perícias forem concluídas.
Veja abaixo a declaração da ex-secretária:
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