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Entre a filosofia e a luta: conheça a trajetória de Ana Clara Nunes, militante do MTD

A estudante de filosofia na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e militante do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), Ana Clara Nunes. Foto: Maria Coelho/BFC.

Aos 22 anos, Ana Clara Nunes carrega no olhar a firmeza de quem aprendeu cedo que sonhar é um ato político. Filha de uma família de luta, cresceu entre ocupações, assembleias e bibliotecas comunitárias. Hoje, estudante de filosofia na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e militante do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), ela é uma das vozes curitibanas que reafirmam: resistir é possível e necessário.

Sua trajetória na militância é profundamente ligada à história de seus pais e à ancestralidade de sua família. Ela conta que ambos sempre foram pessoas de luta, ainda dentro da Igreja, e que essa postura foi o ponto de partida para o envolvimento coletivo e social que hoje marca sua trajetória.

Minha mãe é assistente social de formação e estagiou no Cefuria, que é o Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo. E a partir de lá, conheceu o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Isso em 2007, eu tinha 5 anos. Então, desde que eu me conheço por gente, é esse o habitat da nossa família, é a família da militância

afirma.
Ana Clara ao lado dos pais, companheiros de luta. Foto: acervo pessoal.

Desde muito nova, Ana Clara cresceu nesse ambiente de engajamento. Ela lembra que, por volta dos nove anos, começou a se envolver com ações voltadas à educação e à luta territorial.

Sempre fui da luta territorial também, com o Levante Popular da Juventude, dos 9 aos 12 anos, tinha uma atuação na Tiradentes 1, que é uma ocupação do Sabará, com uma biblioteca, com crianças ali, muito massa. Esse tipo de trabalho territorial sempre foi o que me encantou mais, mais do que o estudantil, inclusive. E ali ainda era uma herança, eu estava reproduzindo o que eu conhecia

explica.
Ana Clara em 2011, na Marcha da Jornada de Agroecologia. Foto: acervo pessoal.

Entre os 12 e 15 anos, ela começou a ser convidada para palestras sobre educação em várias partes do Brasil, incluindo eventos organizados por instituições de perfis diversos, como a Fundação Lemann.

Eram algumas instituições bem contraditórias. Não é bem do nosso lado e o debate sempre era se eu ia ou não, mas, entendendo sempre que era importante ocupar os espaços. Se não fosse eu representando a voz das pessoas que fazem parte desse ciclo de resistência, ia ser outra pessoa, falando não sei o que com outros interesses

conta a jovem.
Ana Clara no TEDx São Paulo, em 2017. Foto: acervo pessoal.

Com o tempo, ela voltou a se dedicar mais às lutas territoriais e comunitárias, construindo outros movimentos e fortalecendo as bases populares. Ana Clara reconhece que toda essa trajetória tem raízes na fé e na influência das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica e da Teologia da Libertação. Para ela, é justamente esse elo afetivo e espiritual que sustenta a caminhada.

No final das contas é isso que nos mantém na luta. É um pouco da da fé, inclusive, de que é possível, que muita gente antes de mim veio fazendo isso para que hoje a gente consiga ter outro espaço e outros acessos para continuar na luta

ressalta.

Segundo Ana Clara, alguns períodos transformaram profundamente sua trajetória e seu modo de ver o mundo. Ela recorda que as ocupações de escolas em 2016 foram um desses marcos. O movimento, que, segundo ela, nasceu da efervescência política das ruas desde 2013, simbolizou para ela a força da juventude e o despertar de uma consciência crítica.

2013 foi uma grande esperança para mim em ver a juventude na rua, com pautas muito contundentes

reflete.

Em 2016, aos 13 anos, Ana Clara começou a se perceber como um sujeito político autônomo. Ela lembra com humor de quando uma professora disse achar que ela era anarquista, e como essa observação a motivou a estudar mais e repensar suas próprias referências ideológicas.

No começo me senti até ofendida

conta rindo.

Mas aí eu fui estudar mais a respeito e isso me fez ver que muitas das minhas críticas eram naquele viés mesmo

complementa.

Esse processo a levou, entre 2017 e 2019, a participar de um movimento territorial anarquista de base em Curitiba, o MOB (Movimento de Organização de Base), com o qual mantém vínculo até hoje.

Tivemos construções muito positivas, isso me forma até hoje

destaca.

O ano de 2019 também foi profundamente marcante por outro motivo: a perda de seu irmão. O luto, segundo ela, foi um divisor de águas.

A nossa rede de apoio foi muito constituída na luta. É uma família muito grande que a gente formou, a gente constrói comunidade, não é uma luta racional, separada. É a gente construindo resistência, construindo comunidade perto de nós

afirma.

A morte do irmão, que também era militante, a fez repensar sua vida e encontrar novas formas de continuar a luta.

Me fez botar os pés no chão

relembra.

Pouco depois, aos 17 anos, Ana Clara ingressou no MTD (Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos) levando consigo um novo grau de maturidade e consciência política. Desde então, cada fase tem sido intensa e transformadora.

Com o passar do tempo, todos os momentos são intensos, acho que por ter mais consciência das coisas, parece que a cada dia as coisas mudam

comenta a jovem.

Ela enfatiza que o momento mais difícil de sua vida continua sendo a perda do irmão, que também militava por pautas como a tarifa zero no transporte público, bandeira que hoje Ana Clara também defende.

Ele faz muita falta, na prática e no afeto. Mas é também por ele que eu sigo lutando

afirma, emocionada.

Desafios

Manifestação do movimento Despejo Zero. Foto: acervo pessoal.

Ana Clara reflete que um dos maiores desafios da militância é lidar com as relações humanas. Para ela, a luta por transformação social não envolve apenas mudar as estruturas de produção e poder, mas também enfrentar as contradições e fragilidades das relações interpessoais.

A gente vive lidando com seres humanos

comenta.

Ela conta que alguns dos momentos mais difíceis foram justamente aqueles em que se deparou com a hipocrisia e com o que chama de “fogo amigo”, com situações de conflito e rivalidade dentro dos próprios movimentos sociais.

É aquilo: nunca conheça seus ídolos né. Tem tanta gente que a gente vê como referência de várias organizações, de vários processos políticos, mas a gente vai conhecendo de perto. Para mim foram momentos difíceis, quanto mais consciência eu tomo mais eu vejo as contradições que nós mesmo estamos embutidos

lamenta.

Ela explica que, dentro do MTD, há uma preocupação constante em discutir essas dimensões humanas e afetivas da militância.

É uma discussão que vai além do lado material e político, alcança também o lado humano, individual e até espiritual. É sobre como a gente lida com as pessoas

define.

Episódio na UFPR

Na noite do dia 9 de setembro, estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) ocuparam o prédio histórico da instituição, na Praça Santos Andrade, em Curitiba, e impediram a realização de uma palestra sobre supostos abusos do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento dos suspeitos de organizar um golpe de Estado no país. O evento contaria com as participações do vereador de Curitiba Guilherme Kilter (Novo) e do advogado bolsonarista Jeffrey Chiquini.

Durante o protesto, marcado por gritos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e o projeto de anistia aos envolvidos na trama golpista, os estudantes ocuparam o Salão Nobre do curso de Direito, onde a palestra estava programada para ocorrer. A tensão aumentou quando Kilter e Chiquini tentaram acessar o local e foram recebidos com gritos e água.

Com o clima de hostilidade e empurrões, ambos se refugiaram na sala dos professores. Pouco depois, a Polícia Militar do Paraná entrou no prédio, fortemente armada, usando bombas de efeito moral, gás e balas de borracha. No tumulto, um estudante foi preso e Ana Clara foi atingida na perna por três balas de borracha.

Ana Clara no episódio na UFPR. Foto: Tami Taketani/Plural.

A estudante relembra o episódio, classificando a ação da polícia como “truculenta” e afirmando que o ocorrido expõe não apenas o autoritarismo policial, mas também o momento político delicado que o país atravessa. Segundo ela, o evento era “no mínimo suspeito”, realizado no mesmo dia do julgamento de Bolsonaro, e organizado por pessoas externas à comunidade acadêmica.

Nunes explica que a mobilização tinha como objetivo defender a universidade pública de discursos autoritários. O ato dos estudantes resultou no cancelamento da palestra antes mesmo de seu início.

Fomos vitoriosos. Essa galera quer privatizar a universidade pública, a nossa universidade não pode ser solo fértil para esse discurso ser disseminado

relembra.

Ana Clara estava no local para apoiar os estudantes.

Pensei que ficaria só uma hora, só para dar um apoio simbólico. Mas quando vimos, o espaço estava tomado pela polícia. E quando vi um companheiro sendo arrastado no chão, fui tentar defendê-lo, foi nesse momento que fui atingida

relata.

Para ela, o caso evidencia o caráter repressivo das forças de segurança no Brasil.

Isso nos mostra para onde está indo não só o estado do Paraná, mas todo o Brasil. Tem uma polícia muito truculenta, inclusive em governos que se dizem progressistas de esquerda, a polícia tem essa mesma característica violenta

diz.

Eu, enquanto uma menina branca, no centro da cidade, com toda a mídia ali cobrindo a situação, com um monte de gente, fui violentada dessa forma pela polícia. É para a gente saber que isso foi uma amostrinha do que a polícia faz cotidianamente nas periferias da cidade. A polícia do Ratinho Júnior é uma das mais violentas e tem sido destinado muito recurso para isso. Milhões e milhões e milhões de reais para comprar armamento. Eu acho que o pano de fundo, ele é muito mais sério

complementa.

A jovem reconhece que o caso trouxe visibilidade à sua trajetória, mas faz questão de destacar que essa visibilidade precisa servir para algo maior: chamar a atenção da sociedade para a violência cotidiana que atinge, sobretudo, a juventude preta e periférica.

Me sinto no dever com essa situação da gente botar os olhos da opinião pública para o que realmente importa. Para violência que realmente está assassinando cotidianamente a juventude preta e periférica

disse.

Filosofia

Ana Clara conta que sua escolha pela filosofia foi uma decisão guiada por circunstâncias pessoais. Seu plano inicial era cursar História na Bahia, referência na área e destino que ela sonhava desde o ensino médio. No entanto, a perda do irmão mudou seus planos e a fez permanecer em Curitiba. Foi nesse momento delicado que o incentivo de uma professora que pagou sua inscrição no vestibular e a encorajou a seguir estudando, tornou-se decisivo para que ela encontrasse na filosofia um novo caminho.

É muito louco perceber que falar da nossa história é sempre falar da história da comunidade que nos cria assim. Eu não seria quem eu sou, não estaria nem na faculdade, se não fosse, por exemplo, a professora Andressa

relata.

A escolha pela filosofia veio, então, de forma quase instintiva, inspirada também pelas palavras da mãe, que dizia acreditar que todos deveriam cursar filosofia e serviço social antes de qualquer outra graduação, para compreender melhor o mundo e o papel de cada um nele.

A filosofia me ajuda a ter essa visão do todo, a entender onde me encaixo nesse percurso

afirma.

Embora sua militância seja bastante prática e voltada para as lutas por direitos, Ana Clara se identifica com o pensamento filosófico como um espaço de respiro e reflexão. Ela diz que a filosofia a ajuda a desenvolver o que chama de “paciência histórica”: a capacidade de compreender os processos de transformação social como parte de uma longa trajetória coletiva. Para ela, a filosofia é uma forma de encontrar equilíbrio entre ação e reflexão, um descanso para a alma em meio à correria da militância.

Quando a gente olha para tudo que tem de acúmulo e tudo que teve de resistência, a gente se percebe uma gota nesse oceano. Mas que sem essa gota o oceano seria menor. Eu gosto dessa ideia de pensar na nossa pequenez, mas ter o entendimento que a nossa pequenez é parte de um todo muito grande. A filosofia me ajuda nesse sentido, dá um descanso para a alma, da militância, da correria. Parece que isso é uma vida dupla até. Tem a vida universitária e tem a vida dos corres de militantes que a gente faz, que a maioria das pessoas aqui muitas vezes não sabe nem que existe

reflete.

Futuro

Para Ana Clara, mais do que esperar mudanças, é preciso acreditar que a transformação é possível e se comprometer com ela, mesmo diante das incertezas. Ela se vê como parte dessa corrente de luta que atravessa gerações. Quer ser uma das vozes que amplificam as histórias de resistência.

Nós temos resistência sendo feita em Curitiba, no Paraná e em todo o Brasil. Historicamente, a resistência sempre existiu onde houve opressão. E eu boto muita fé e quero ser mais uma das vozes que amplifica essa história. E Curitiba é um lugar de muita luta, o Paraná também. De muita resistência que é apagada. Esperamos continuar sendo essa resistência e queremos um lugar diverso. Não precisamos estar em concordância com um posicionamento político, com um partido, com uma ideologia. A gente precisa fazer nossas vozes serem ouvidas

declara.
Ato em Curitiba contra a PEC da Blindagem no dia 21 de setembro. Foto: Felipe Roehring.

A jovem reconhece que conciliar vida pessoal, estudos e militância é uma das tarefas mais difíceis, e que ainda está em aprendizado nesse equilíbrio. Para ela, a vida social muitas vezes se confunde com a militância:

A gente constrói comunidade, no MTD principalmente, a gente fala muito desse amor camarada. Que a gente tem com os companheiros que a gente se encontra nas trincheiras o tempo todo. E a gente cria carinho, cria uma relação e aprofunda essas relações com quem tem afinidade com a gente. Eu tô tentando conciliar nesse sentido de ser mais camarada, mais parceira de quem tá comigo na luta. Isso dá um acalento para o nosso coração

destaca.

Apesar disso, a jovem alerta para os riscos de romantizar a militância. Segundo ela, viver em estado de resistência é exaustivo e doloroso.

A gente não pode romantizar a questão, realmente é muito difícil viver em estado de resistência. E é um dever nosso buscar a paz, uma paz interior. Se nós não tivermos a paciência histórica, como eu comentei, para lidar com as dificuldades que a gente vive, a gente tá fadado a acabar

disse.

A militância, diz, lhe traz muita alegria e sentido, mas exige também cuidado mútuo:

Sou muito feliz com isso. A vida da militância me traz muita alegria de ver gente como nós resistindo com força e com certeza eu só sou o que sou por conta dessa galera toda que dá um suporte emocional, principalmente, mas inclusive de não deixar a gente parar, porque a gente pensa em parar vários momentos

ressalta.

Aos jovens que querem começar na militância, mas não sabem por onde, Ana Clara deixa um conselho prático e encorajador: comece onde você está.

Não saber por onde começar é uma questão. Mas quando a gente fala do trabalho de base, nossa missão é se organizar. É onde a gente tá. Qualquer lugar: a família, a igreja, o espaço de estudo, de trabalho, a cultura

diz.

Com um olhar firme e uma fala carregada de consciência, ela faz questão de reafirmar: é possível. Mesmo quando tentam convencer o contrário, mesmo quando dizem que a história já está escrita.

A mensagem mais que eu sempre tento deixar por onde passo é que é possível. Querem tentar convencer a gente de que não é. Querem convencer a gente que só existe uma história e que a gente é refém dela e nós não somos. A história é construída também por nós. Nós somos sujeitos históricos. Eu falo muito no movimento que a gente tem uma missão nos nossos trabalhos: é aumentar a autoestima das pessoas, a autoestima individual e coletiva

explica.
Registro de um mutirão no assentamento Contestado, na Lapa. Foto: acervo pessoal.

Somos ensinados que não somos capazes, que a gente é impotente e não consegue nada sozinho. Mas historicamente a gente só conseguiu as coisas quando nós mesmo fomos fazer acontecer. Não é esperando que outros façam por nós. Esse ato de rebeldia de querer reafirmar os nossos sonhos por si só é um ato revolucionário

complementa.

Ela cita uma frase de Chico Science para resumir o que sente: “Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar”.

É sobre isso, começar pequeno mesmo, fazer o que é possível para nós. E nunca deixar de seguir os nossos sonhos, nosso coração, fazer bem para os nossos. E se organizar politicamente. A mensagem que eu estou tentando passar é que a organização política, ela é muito importante e ela bota medo. Povo na rua, povo bem organizado, bota medo nos poderosos

finaliza.

Ana Clara reafirma uma visão de mundo em que a esperança se traduz em ação e a mudança começa no cotidiano. Sua trajetória e discurso são um convite à coragem coletiva. Ao falar de autoestima, resistência e organização política, ela lembra que transformar o mundo não é tarefa de poucos iluminados, mas de todos que se recusam a aceitar o silêncio e a imobilidade. Porque, como ela mesma acredita, “é possível” e dar o primeiro passo já é, por si só, um ato revolucionário.

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Maria Coelho

Jornalista com experiência em veículos como a Agência Estadual de Notícias do Paraná. Integra atualmente a equipe do Brasil Fora da Caverna.

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