O duo Setor Norte, formado pelos produtores Pedro Yuka (irmão mais novo de Marcelo Yuka, do O Rappa) e Rômulo Catharino, acaba de lançar seu primeiro álbum: “Palavras Inteiras”. O trabalho estabelece uma identidade musical que recusa concessões, transitando entre crítica social aguda e memória afetiva através de gêneros como R&B, trap, rock e eletrônico.
O título do álbum faz contraponto proposital com a expressão “meias palavras”, representando o compromisso da dupla em “falar a verdade na cara, sem massagem, e tocar nas feridas” – que, segundo os artistas, frequentemente são tanto sociais quanto pessoais.
A jornada sonora começa com “Feat com quem eu amo”, faixa que parte da perda de Marcelo Yuka, para abordar violência policial e luta por sobrevivência. A dor pessoal se expande para questões coletivas em “Até o fim”, primeiro single que confronta a falácia da meritocracia com o refrão: “Vai ver se no Leblon tem invasão / vai ver se no Leblon tem caveirão”.
Entre os destaques está “O fuzil (quem atira?)”, com participação de Marcelinho da Lua, que utiliza drum & bass para criticar a conivência do Estado na violência urbana, ironizando que “o fuzil tem o dobro da idade de quem atira”. Já “Clara liberdade” nasceu de conversas sobre paternidade e foi finalizada no momento do nascimento da filha de Rômulo.
Todo o álbum foi produzido pela dupla, que também reuniu colaborações estratégicas: Gabriel Gimenez em “Sonhos lúcidos”, Martin e Jjota em “Zero um”, além de Marcelinho da Lua. A variedade de gêneros não compromete a coesão do trabalho, que mantém fio narrativo conectando experiências íntimas com estruturas sociais opressivas.
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