A pergunta que circula em Brasília desde o início da semana é uma só: a quem interessa enfraquecer o papel da Polícia Federal no combate ao crime organizado e a facções como o PCC e o Comando Vermelho?
A questão foi suscitada depois que o secretário de Segurança de Tarcísio de Freitas (Repub-SP), Guilherme Derrite (PP-SP), apresentou uma proposta que impede a PF de investigar essas facções sem o aval prévio dos governos estaduais.
O texto inicialmente defendido pelo assessor de Tarcísio e pré-candidato ao Senado condicionava as investigações conjuntas da Polícia Federal (PF) com forças estaduais sobre crimes relacionados a facções criminosas a um pedido formal dos governadores.
- Com atraso, Tarcísio admite que manifestações contra “PEC da Bandidagem” refletem vontade popular
- Após manifestações, Senado enterra de vez a “PEC da Bandidagem”
- “DEU RUIM”: Após repercussão negativa, Moro recua e retira emenda para ressuscitar “PEC da Bandidagem”
Diante da enxurrada de críticas de todos os lados, Derrite recuou parcialmente, mas manteve a previsão de que, mesmo que a PF participe da investigação, o processo não irá necessariamente para a Justiça Federal, como seria esperado, podendo ficar restrito às cortes estaduais.
Na prática, a proposta do secretário de Segurança paulista ressuscita a famigerada “PEC da Bandidagem”, pela qual bolsonaristas e políticos do Centrão pretendiam “blindar” parlamentares de investigações por corrupção, e que foi derrotada após a mobilização popular que tomou as capitais do País em 21 de setembro.
Caso essa iniciativa patrocinada por Tarcísio vingue, ações como a operação Carbono Oculto, que desbaratou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro operado pelo PCC de São Paulo através de fraudes no mercado de combustíveis, ficariam inviabilizadas.
“É uma nova versão da PEC da blindagem ou PEC da bandidagem. Muita gente no Parlamento está com medo dos desdobramentos da Operação Carbono Oculto”, apontou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), para quem as mudanças feitas por Derrite não resolvem a questão.
“O parecer continua atacando a Polícia Federal, tentando transformar um instrumento de Estado em refém de interesses políticos. É um texto feito para domesticar a PF, e isso é inegociável”, avalia ele.
Qualquer olhar isento sobre esse episódio conclui que a resposta para a primeira questão não pode ser outra: enfraquecer o papel da PF no combate às facções só interessa ao crime organizado e aos seus aliados.
Bookmark