O Brasil vive uma escalada no fechamento de fábricas clandestinas de bebidas alcoólicas, que passaram de 12, em 2020, para 80 em 2024, segundo a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF). Esse aumento, equivalente à interdição de uma unidade irregular a cada cinco dias, ganhou ainda mais repercussão após os recentes casos de intoxicação por metanol que já somam 59 ocorrências entre suspeitas e confirmações, com oito mortes registradas em São Paulo e Pernambuco.
O crescimento desse mercado ilegal está ligado à atuação do crime organizado, que aproveita a fragilidade da fiscalização e a alta demanda por bebidas baratas para movimentar bilhões de reais todos os anos.
Os números revelam uma indústria clandestina em plena expansão. Apenas nos primeiros oito meses de 2024, foram retiradas de circulação 185 mil garrafas adulteradas. Isso significa que, em média, uma garrafa falsificada foi apreendida a cada dois minutos no país. Os destilados, especialmente uísque e gim, estão entre os produtos mais atingidos, e estima-se que mais de um terço desse segmento vendido no Brasil seja falsificado.
De acordo com a ABCF, o faturamento dos grupos criminosos envolvidos nesse comércio chega a R$ 62 bilhões por ano. Já o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) calcula que, entre 2016 e 2022, a produção ilegal dobrou, saltando de 128 milhões para 256 milhões de litros fabricados sem controle sanitário ou tributário.
O relatório ressalta que a falsificação se consolidou como uma das frentes mais rentáveis para organizações criminosas, funcionando como fonte de financiamento para outras atividades ilícitas, como tráfico de drogas e armas.
As mortes recentes provocadas por bebidas contaminadas aceleraram a resposta do Congresso. Na última quinta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou, em votação simbólica e unânime, a urgência para um projeto de lei que transforma a adulteração de alimentos e bebidas em crime hediondo.
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Se aprovado, o texto aumentará a pena atual, que hoje varia entre quatro e oito anos de prisão, para um intervalo de seis a 12 anos, além de restringir benefícios como progressão rápida de regime.
Enquanto o debate legislativo avança, operações policiais têm desmantelado estruturas clandestinas em diferentes regiões. Em Americana (SP), agentes encontraram uma fábrica com 17,7 mil garrafas adulteradas. Em Barueri, outro lote de 128 mil garrafas foi lacrado por falta de comprovação de origem.
Também houve prisões em cidades como Dobrada e investigações na capital paulista, onde foram apreendidos milhares de lacres e rótulos falsificados que seriam usados para enganar consumidores.
A Polícia Federal, em parceria com o Ministério da Agricultura, realizou incursões em depósitos e distribuidoras suspeitas na Grande São Paulo e no interior do estado. Segundo os investigadores, os criminosos utilizam insumos químicos em concentrações muito acima do permitido pela legislação sanitária, colocando em risco direto a vida dos consumidores. O uso de metanol, por exemplo, pode causar cegueira e até levar à morte.
Especialistas alertam que, diante desse cenário, o consumidor deve adotar cuidados redobrados. Preços muito abaixo da média, embalagens com rótulos mal colados e ausência de notas fiscais são sinais de alerta. A recomendação principal é simples: adquirir bebidas apenas de fornecedores reconhecidos.
O crescimento do mercado clandestino de bebidas mostra não apenas o risco à saúde, mas também o impacto econômico e social de um negócio que se tornou altamente lucrativo para organizações criminosas.
Para especialistas, o enfrentamento passa pelo fortalecimento da fiscalização, pela retomada de sistemas de rastreabilidade e pelo endurecimento das leis. Até que isso aconteça, a população segue exposta a um mercado que mistura fraude, evasão de impostos e graves ameaças à saúde pública.
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