A eventual condenação do ex-presidente e líder da extrema-direita, Jair Bolsonaro e de seus principais aliados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 não representa, por si só, a salvação final da democracia brasileira.
Em 2018, o Brasil elegeu uma bancada bizarra de congressistas, mas não o suficiente para que Bolsonaro e sua trupe não sofressem derrotas tentando destruir as instituições. No entanto, em 2022, foi eleito o que provavelmente vai ficar conhecido como o pior congresso da história, com figuras que ultrapassam o limite da indigência intelectual e caem abertamente no terreno da desonestidade e do fanatismo ideológico pelo seu famigerado mito.
A melhor resposta que nosso país poderia ter dado, seria ter prendido todos os envolvidos nas mortes dos brasileiros desalentados durante a pandemia de covid-19. Mas agora que “Inês está morta”, há mais uma chance de punir aqueles que governaram e governam o país baseado em pulsão de morte.
As instituições brasileiras dependem de uma complexa reforma para solidificar sua democracia e isso passa por fatores que levarão tempo e demandam paciência e boa vontade, coisa que neste momento, não temos em nossos representantes. Como esperar que uma figura acovardada como Hugo Motta enfrente a sanha golpista dos bolsonaristas? Como esperar algo novo se Artur Lira ainda dá as cartas? É preciso um processo de educação política feroz para que consigamos parar de repetir erros que culminou em neofascistas como Bolsonaro.
Não fosse a anistia pós redemocratização, se não fosse a não prisão de deputados homenageando torturadores, se não fosse a condescendência do jornalismo hegemônico com negacionistas e o avanço da igreja neopentecostal no campo político, se não fossem tantas coisas, muita gente ainda estaria viva, nossa democracia estaria um pouco mais forte.
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Com a condenação de Jair Messias Bolsonaro e seus aliados, o Brasil envia um sinal, mas que só terá um efeito duradouro se em 2026, o brasileiro mostrar que não quer autoritarismo no Congresso, não quer essa gangue burra e triste legislando em causa própria 24 horas por dia.
E para além do voto, as ruas precisam voltar a ser da esquerda. Desde que a extrema-direita avançou na movimentação de rua, a esquerda tem sofrido seguidas derrotas. Acho que os líderes esqueceram que são as ruas que pressionam políticos e que nem sempre a institucionalidade (na verdade quase nunca) evitará a brutalidade da cadela do fascismo.
O julgamento e condenação de Bolsonaro vai amedrontar por um tempo políticos que simpatizam com estratégias de desestabilização da democracia, mas como a história tende a se repetir e provavelmente esses condenados irão cumprir pena em casa, em suas confortáveis mansões, é possível que tudo se repita mais cedo do que pensamos.
A condenação, portanto, cumpre o papel básico de uma pátria que quer se manter democrática e presta satisfação à memória de quem lutou por liberdade, mas ainda não resolve o sangramento aberto nas veias do Brasil.
A sentença do STF tem que ser o começo para uma enorme mudança e não como motivo de esquecer e/ou perdoar.
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