Os dados mais recentes do Censo 2022, divulgados na última quarta (5) pelo IBGE, expõem uma realidade preocupante: mais de 34 mil crianças e adolescentes com idades entre 10 e 14 anos vivem em união conjugal no Brasil. Deste total, 77% são meninas, o que revela uma clara desigualdade de gênero nesse fenômeno.
A maioria dessas uniões (86,6%) ocorre de forma “consensual”, sem registro civil ou religioso, e apenas 7% são casamentos formalizados em cartório e igreja.
Embora o casamento de menores de 16 anos seja proibido por lei, o IBGE lembra que o levantamento não comprova a legalidade das relações, pois os dados se baseiam apenas na autodeclaração dos moradores.
Para Luciene Aparecida Longo, técnica do instituto, o objetivo é retratar a realidade social, mesmo quando ela contraria o que está previsto em lei.
O Censo quer mostrar o país como ele é, para que políticas públicas possam atuar onde há violações
explica.
Entre as meninas envolvidas nessas uniões, 62% se declaram pardas e 27% brancas. O estado com mais casos é São Paulo (13,8%), seguido de Bahia (7,9%) e Pará (7,5%).
Especialistas alertam que o “casamento infantil” é uma forma de violência de gênero que interrompe infâncias e perpetua desigualdades. Segundo a advogada Mariana Zan, do Instituto Alana, essas uniões costumam levar à evasão escolar, gravidez precoce e dependência econômica.
Muitas meninas se casam achando que estão fugindo da violência, mas acabam presas em outro ciclo de vulnerabilidade
afirma.
O retrato do Censo acende um alerta: o país ainda precisa encarar de frente a naturalização do “casamento infantil” e proteger meninas que, em vez de cuidar de uma casa, deveriam poder sonhar com o próprio futuro.
*Com informações do portal g1 e Folha de S. Paulo.
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