A investigação sobre o atropelamento que deixou Tainara Souza Santos em estado gravíssimo ganhou um elemento central: a contradição entre o depoimento do criminoso e o relato de uma testemunha que estava ao lado dele na madrugada do crime.
Preso no domingo (30), Douglas Alves da Silva, de 26 anos, declarou à polícia que não conhecia a vítima e que seu alvo seria um homem que o teria ameaçado pouco antes. A versão, no entanto, não se sustenta diante do depoimento de Kauan Silva Bezerra, de 19 anos, amigo que o acompanhou desde o início da noite.
Kauan afirmou que Douglas não apenas conhecia Tainara, como mantinha com ela um relacionamento recente, rompido há pouco tempo. Ele relatou ainda que os dois chegaram a interagir dentro do bar, no Parque Novo Mundo, na Zona Norte da capital, pouco antes da discussão que antecedeu o atropelamento.
Segundo o depoimento, o clima piorou quando Douglas viu a jovem interagindo com outro homem, o que teria despertado ciúmes. Após a confusão, já do lado de fora, os dois discutiram de maneira intensa.
O relato do amigo detalha ainda a dinâmica do crime. Ele disse que entrou no carro com Douglas, que deu uma volta no quarteirão e, de repente, acelerou em direção à vítima. Kauan contou ter ficado paralisado ao ver o motorista jogar o veículo contra Tainara e, logo depois, puxar o freio de mão, aumentando o impacto sobre o corpo dela.
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A vítima ficou presa sob o carro, sendo arrastada por cerca de um quilômetro, cena que foi registrada por câmeras de segurança e por motoristas que passavam pelo local.
Tainara, de 31 anos e mãe de dois filhos, sofreu ferimentos extensos e teve as duas pernas amputadas. Ela permanece internada, entubada e passando por novas cirurgias devido à gravidade das lesões.
Após o crime, Douglas deixou o local e acabou encontrado posteriormente em um hotel na Zona Leste de São Paulo. Segundo o registro policial, ele tentou reagir à prisão e foi baleado no braço. Na audiência de custódia, afirmou ter sido agredido pelos policiais e não ter recebido atendimento médico adequado. A Justiça encaminhou o caso à Corregedoria para apuração. A Polícia Civil, por sua vez, diz que a abordagem seguiu a legalidade.
Diante dos depoimentos e das imagens, os investigadores tratam o episódio como tentativa de feminicídio qualificado, sustentado por motivo fútil e extrema crueldade. O relato do amigo é considerado peça-chave para desmontar a versão apresentada por Douglas e esclarecer que não houve acidente, mas uma ação intencional após discussão motivada por ciúmes.
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