Formada em Uberaba (MG), a Black Pantera é uma das bandas mais contundentes do cenário musical brasileiro atual. Com um som que mistura peso, atitude e consciência social, o trio construiu sua trajetória a partir de histórias pessoais, críticas sociais e resistência, refletindo sobre a força da música como ferramenta de transformação.
Filhos de um ambiente musical, os irmãos Charles Gama (guitarra e vocal) e Chaene da Gama (baixo) cresceram cercados por ensaios e artistas.
Nossa casa sempre foi rodeada de músicos, a gente sempre ia nos ensaios, foi algo muito natural
recorda Chaene.
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Charles lembra que desde cedo transitou por todos os estilos, do samba ao sertanejo raiz, mas sem abandonar o rock. Entre risos, ele comenta:
Teve um charme de querer jogar bola quando era moleque, mas não deu muito certo
comentou.
Uma lesão precoce o afastou do esporte, abrindo ainda mais espaço para a música.
Já Rodrigo Pancho (bateria) entrou no universo musical pela capoeira, através de um projeto social do qual sua mãe participava, e depois migrou para o samba. Na juventude, a cena rock de Uberaba era pequena, mas sempre os aproximava.
A necessidade de uma banda preta

Desde o início, Charles tinha clareza do que queria:
Eu queria uma banda preta desde o começo, porque eu queria me sentir representado. Eu cresci com isso, gosto de fazer rock’n’ roll mas não me sinto representado
declarou.
No começo, Chaene e Rodrigo resistiram à ideia de trabalhar com música autoral em uma cidade interiorana e ainda abordar temas tão fortes. Mas ao ouvir as primeiras composições, a dúvida virou certeza.
O trio mergulhou de cabeça no projeto. A partir desse momento, acreditaram totalmente no que estava sendo feito e dali pra frente as coisas foram só acontecendo. Os caminhos foram levando-os a vários lugares.
O percurso, no entanto, não foi fácil. Rodrigo recorda que durante a pandemia precisou trabalhar em aplicativos, enquanto Charles lavava carros e Chaene atuava como CLT.
Em 2022, a gente tocou no Rock in Rio na sexta, na segunda o Charles tava lavando carro
contou.
E completou:
A mente ficava doida, acabei de tocar no Rock in Rio… quantas bandas importantes que têm talento, que têm algo a dizer, não desistem no meio do caminho? A sociedade vai te engolindo, então você tem que trabalhar, isso suga sua energia
disse.
Apesar das dificuldades, o Black Pantera conquistou reconhecimento dentro e fora do Brasil. Mas sempre mantiveram o compromisso de cantar em português.
Muita banda sai daqui cantando inglês, a gente nunca quis fazer lá primeiro, a gente sempre quis falar com os brasileiros
explica Charles.
Ele reforça:
Tinha certeza que tinha que trocar ideia com as crianças do Brasil
afirmou.
Essa escolha rendeu frutos: a banda foi até tema de questão do Enem e consolidou seu nome no cenário nacional.
Manifesto e representatividade

A postura da banda vai além da música:
Não tentem embranquecer o nosso rock
afirmam em manifesto.
Para eles, o underground segue sendo um espaço de resistência, com bandas que levantam bandeiras sobre racismo, feminismo e comunidade LGBTQIA+.
No mainstream tinham bandas que nos anos 80 falavam e agora estão confortáveis, não precisam se posicionar, mas as bandas no underground estão falando sim
lembra Charles.
O trio também comentou a presença crescente de mulheres e crianças em seus shows, contrastando com o histórico masculino do rock.
O futuro e o papel da arte

O grupo também falou sobre os tempos atuais e o que esperam para o futuro.
A gente vive momento terrível, ataque à democracia, vários conflitos no mundo inteiro, extrema direita avançando, discurso de ódio, a gente tem que estar conectado, a sociedade precisa se organizar
afirmou Chaene.
Rodrigo completou:
Espero que o imperialismo derreta, espero que a gente esteja muito melhor… viva a música, a arte salva, espero que daqui dez anos as pessoas estejam mais conectadas com a arte
E mesmo diante das dificuldades, a banda sabe do impacto que já deixou na história. Como resume Charles:
Se a banda acabar amanhã vai ser uma parada histórica, vai ter uma molecada falando da gente
arrematou.
*Dica: para quem quiser mergulhar nas mensagens do trio, eles recomendam ouvir “Tradução”, uma homenagem às mães brasileiras, e “Candeia”, sobre o poder dos tambores.
TRADUÇÃO, do álbum “PERPÉTUO” (2024):
CANDEIA, do álbum “PERPÉTUO” (2024):
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