A campanha sistemática de descreditação do jornalismo, intensificada durante o movimento liderado por Donald Trump a partir de 2016, atingiu um marco histórico nos Estados Unidos. Uma pesquisa recente do Instituto Gallup revela que a confiança da população na mídia tradicional (jornais, televisão e rádio) atingiu seu menor patamar em quase cinco décadas de acompanhamento.
Segundo o estudo, apenas 28% dos americanos afirmam confiar “razoavelmente” ou “muito” que a mídia noticiosa reporte as informações de maneira “completa, justa e precisa”. O dado representa uma queda significativa em relação aos 31% de 2023 e consolida uma trajetória de erosão que já havia reduzido a confiança de 40% em 2020 para o patamar atual.
Embora a desconfiança em relação às notícias seja um fenômeno global, sua intensidade varia drasticamente entre os países. O Digital News Report, do Instituto Reuters, coloca os EUA em uma posição crítica: o país ocupa o 39º lugar em confiança no noticiário entre 48 mercados analisados.
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O Brasil, por sua vez, apresenta um cenário um pouco mais favorável. A confiança geral no noticiário no país é 12 pontos percentuais superior à dos Estados Unidos, posicionando-o em 20º lugar no mesmo ranking. Especialistas apontam que, apesar de líderes políticos brasileiros também adotarem retórica agressiva contra a imprensa, a campanha nos EUA é singular em sua escala e métodos, que transcendem as críticas verbais para incluir ações judiciais e ameaças de retaliação regulatória contra jornalistas e organizações.
O dado do Gallup marca um declínio vertiginoso quando visto em perspectiva histórica. Quando o instituto começou a medir a confiança no jornalismo, na década de 1970, a grande maioria dos estadunidenses — cerca de 70% — confiava nas notícias que recebia. A queda para menos de 30% pela primeira vez simboliza uma ruptura profunda no relacionamento entre o público e a imprensa institucional.
Mesmo não confiando da mídia tradicional, os estadunidenses não estão migrando sua confiança para ferramentas de inteligência artificial. Uma pesquisa paralela do Pew Research Center, divulgada na semana passada, mostrou que menos de 10% dos entrevistados buscam notícias em chatbots como o ChatGPT. Além da baixa adoção, metade desses usuários relata já ter encontrado informações imprecisas nesses canais.
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