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Adriana Calcanhotto: 60 anos de poesia, música e reinvenção

Adriana Calcanhotto
(Foto: Divulgação)

Adriana Calcanhotto completa 60 anos nesta sexta-feira (3). A cantora celebra não apenas sua trajetória pessoal, mas também a influência que exerce na Música Popular Brasileira. Sua obra transita entre tradição e modernidade, dialoga com múltiplos gêneros e públicos, e mantém, em cada fase, uma identidade própria, como podemos conferir a seguir.

Nascida em Porto Alegre em 3 de outubro de 1965, Adriana da Cunha Calcanhotto cresceu em um ambiente permeado por música e arte. Filha do baterista de jazz e bossa nova Carlos Calcanhotto e da bailarina e professora de Educação Física Morgada Assumpção Cunha, desde cedo teve contato com diferentes linguagens artísticas. 

Aos seis anos, ganhou o primeiro violão, instrumento que a acompanharia por toda a vida e ajudaria a construir uma carreira marcada por quase quatro décadas de música, poesia e reinvenção.

Início da carreira e primeiros passos

Adriana Calcanhotto
(Foto: Divulgação)

Nos anos 1980, Adriana iniciou sua carreira em bares e casas noturnas de Porto Alegre. As apresentações eram intimistas, apenas com voz e violão, mas já revelavam seu talento e sensibilidade. Desde cedo, decidiu não se limitar a interpretar canções de outros compositores, buscando construir uma identidade própria e explorar seu repertório autoral.

Um passo importante foi a colaboração com o diretor teatral Luciano Alabarse, que resultou em projetos integrando música, poesia, artes visuais e performance. O espetáculo A Mulher do Pau Brasil (1987), inspirado no modernismo brasileiro, combinava cartas históricas, figurinos e canções em uma experiência cênica inovadora, mostrando a ambição estética de Adriana desde seus primeiros trabalhos.

Em 1989, após temporadas bem-sucedidas no circuito alternativo, a cantora foi convidada a se apresentar no Rio de Janeiro. O disco de estreia Enguiço (1990) trouxe composições próprias, como a faixa-título e Mortaes, e releituras de clássicos da MPB e do pop brasileiro, como Sonífera Ilha (Titãs) e Naquela Estação (Caetano Veloso e João Donato). 

O álbum vendeu mais de 50 mil cópias e rendeu o Prêmio Sharp de Revelação Feminina, apresentando a artista como voz relevante de um novo movimento de cantoras, ao lado de Marisa Monte, Cássia Eller e Zélia Duncan.

O segundo álbum, Senhas (1992), projetou Adriana nacionalmente, com faixas como Mentiras e Esquadros. O disco combinava introspecção, lirismo e sofisticação estética, mostrando desde cedo a capacidade da cantora de inovar sem perder a sensibilidade poética. O trabalho foi um sucesso, vendendo mais de 150 mil cópias.

Oito discos essenciais

Adriana Calcanhotto
(Foto: Reprodução)

Ao longo de quase 40 anos, Adriana lançou obras que se tornaram referência na MPB. Oito discos, em especial, representam marcos de sua carreira, evidenciando sua versatilidade e capacidade de dialogar com públicos diversos:

A Fábrica do Poema (1994)

Álbum experimental que mesclou música e poesia, com colaborações de Augusto de Campos, Antônio Cícero, Waly Salomão e Arnaldo Antunes. Canções como Metade e Inverno consolidaram Adriana no imaginário do público.

Senhas (1992)

Segundo disco de estúdio, marcou a consolidação da carreira da cantora, gerando clássicos instantâneos como Mentiras, Esquadros e a faixa-título.

Maritmo (1998)

Primeiro álbum de uma trilogia dedicada ao mar, unindo MPB, poesia e elementos de música eletrônica e dance music. O sucesso de faixas como Vambora e Mais Feliz (composição inédita de Cazuza) demonstrou sua capacidade de inovar , sem abandonar a identidade poética. Destaque para outras boas canções, como Vamos Comer Caetano e Mão e Luva (em parceria com Pedro Luís e a Parede).

Cantada (2002)

Disco em que Adriana se aproximou de músicos da nova geração, como Moreno Veloso e Los Hermanos. Incluiu parcerias com Antônio Cícero e releituras de faixas internacionais, como Music de Madonna, aproximando sua obra da música pop mundial. Entre as ótimas canções, estão a bela Cantada (Depois de Ter Você) (popularizada em versão de Maria Bethânia), e Se Tudo Pode Acontecer (de Arnaldo Antunes).

Público (2000)

Registro ao vivo que consolidou sua força no palco. Com mais de 600 mil cópias vendidas, trouxe interpretações marcantes de clássicos da MPB, como Devolva-me (Leno & Lilian), inserida na trilha da novela Laços de Família, da Rede Globo, e uma versão marcante de Maresia, clássico oitentista de Marina Lima e Antonio Cícero.

Maré (2008)

Continuação da trilogia marítima iniciada com Maritmo, incluindo referências à MPB e à música popular portuguesa. Destaque para as faixas “Seu Pensamento”, Três” e “Mulher sem Razão” (outra composição de Cazuza) .

Adriana Partimpim (2004)

Projeto infantil que deu origem a três álbuns e mostrou que a cantora podia unir poesia e musicalidade para crianças sem perder a sua profundidade artística. O disco vendeu mais de 100 mil cópias e rendeu um Grammy Latino.

O Micróbio do Samba (2011)

Álbum autoral dedicado ao samba, com 12 faixas que exploram temas como amor e cotidiano, mostrando sua habilidade de transitar entre gêneros, mantendo sua unidade artística. 

Esses discos formam um panorama de sua trajetória: do experimentalismo poético à música infantil, do samba à vanguarda, do palco intimista aos grandes shows, mas sempre com criatividade e autenticidade.

Música, literatura e ensino

Adriana Calcanhotto
(Foto: Leo Aversa/Divulgação)

Além da carreira musical, Adriana consolidou-se como instrumentista, arranjadora, escritora e professora universitária. Publicou livros como Saga Lusa (2008), relato de uma viagem por Portugal, e organizou a antologia É agora como nunca (2017), dedicada à poesia contemporânea brasileira.

Na Universidade de Coimbra, em Portugal, Adriana foi professora residente, ministrando aulas e masterclasses sobre canção popular, poesia e música brasileira. Essa experiência acadêmica reforça sua visão de que a música integra um tecido cultural mais amplo, e que sua carreira vai além do palco, dialogando com literatura, pedagogia e pesquisa artística.

O projeto Adriana Partimpim ilustra bem essa transversalidade: três álbuns infantis, livros e shows voltados para crianças, mas também apreciados por adultos, mostrando que a música infantil pode ser sofisticada e poética, sem subestimar o público jovem.

Reinvenção e legado contemporâneo

Adriana Calcanhotto
(Foto: Leo Aversa/Divulgação)

Nos últimos anos, Adriana manteve sua relevância artística com projetos que dialogam com o presente. Em 2019, concluiu a trilogia marítima com Margem, reforçando sua pesquisa sobre poesia e mar. 

Em 2020, durante a pandemia, lançou Só (Canções da Quarentena), gravado em isolamento, que trouxe um registro íntimo, sensível e reflexivo daquele período. Adriana também produziu releituras de clássicos da MPB, como Futuros Amantes (Chico Buarque), e participou de projetos audiovisuais que aproximaram o público de seu cotidiano e de seu processo criativo.

Como escreveu o poeta Augusto de Campos, cuja obra foi musicada por ela, “a palavra é viva”. Adriana soube dar vida às palavras, transformando versos em música e cada canção em uma experiência poética única.

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Henrique Romanine

Jornalista, colecionador de vinil e apaixonado por animais, cinema, música e literatura. Inclusive, sem esses quatro, a vida seria um fardo.

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