Onze mulheres vivem em The Bird’s Nest, uma pequena vila de casas compactas no leste do Texas, nos Estados Unidos. Nove delas são aposentadas, com idades entre 60 e 80 anos, e compartilham o objetivo claro de fazer companhia umas às outras na velhice, possivelmente até o fim da vida.
A maioria das mulheres da vila é solteira — assim como metade das mulheres americanas com 65 anos ou mais. Muitas são divorciadas; uma nunca se casou; e uma viúva mantém “o relacionamento perfeito” com um homem que mora em outro estado. Juntas, elas têm 21 filhos e cerca de 24 netos. Também vivem ali nove cachorros.
Yerian, dona do terreno onde fica The Bird’s Nest, tem 70 anos, é extrovertida, com cabelo curto e descolorido, e um jeito alegre. Eu estava com ela e suas vizinhas na “cozinha” da vila, que na verdade é um grande alpendre aberto usado como espaço comunitário para comer, conversar e jogar cartas até tarde da noite. Perto dali, canteiros elevados estavam cheios de abobrinhas. As casas móveis, algumas cercadas por girassóis, pareciam casas de conto de fadas.

Viajei até The Bird’s Nest em meados de julho porque buscava exemplos reais de um sonho que tenho desde os 20 anos: depois de criar filhos e construir carreira, eu e minhas amigas compraríamos uma casa grande em um lugar acessível para morarmos juntas, como na faculdade — cozinhando, rindo, ajudando umas às outras com rampas de acessibilidade e cuidados de saúde, se necessário. (Na época, não pensávamos muito nos parceiros.)
As mulheres de The Bird’s Nest não são nem as mais ricas nem as mais pobres dos EUA. São aposentadas de trabalhos administrativos e de ajuda: professoras, babás, analistas de dados, atendentes, secretárias jurídicas, cuidadoras de saúde domiciliar. Duas foram demitidas perto dos 60 anos, o que encurtou seus anos de trabalho.
Duas mulheres lésbicas casadas moram na vila, assim como uma republicana que possui arma, uma cristã conservadora e várias que se definem como “filhas de militares”. Todas passaram por dificuldades comuns a muitas mulheres: câncer, infertilidade, dependência, problemas mentais, violência doméstica. Algumas têm filhos adultos que moram perto e adoram receber os netos para dormir na casa, fazer viagens anuais para a Irlanda e pescar em Michigan. Outras têm filhos distantes emocionalmente, lembranças dolorosas de erros na criação. As conversas noturnas na “cozinha” muitas vezes viram uma espécie de terapia em grupo, observa Trish Earixson, parte do casal casado.

As mulheres discordam em muitos assuntos, especialmente política — afinal, é Texas. Dentro de suas casas, uma pode estar escrevendo cartões para estados decisivos nas eleições, enquanto outra estuda a Bíblia, mas todas concordaram em não discutir esses temas nos espaços comuns.
Dizemos que nos respeitamos
conta Cheryl Huff, ex-professora do primeiro ano, amiga próxima de Yerian e membro original da vila.
Mas não é fácil
acrescenta.
Elas escolheram estar juntas, o que significa que, quando Katharine Wickham caiu do deque ao pisar em uma caixa de isopor, as outras a levaram ao pronto-socorro. E quando Huff fez uma cirurgia no joelho, as vizinhas buscaram seus remédios e levaram comida até a porta dela.
Todas concordam que a primeira regra, não escrita mas rigorosamente seguida, é: nada de drama. Ou pelo menos, o mínimo possível.
Ninguém aqui gosta de criar confusão
diz Huff.
Essa comunidade, explica Yerian, surgiu de um grupo de mulheres trabalhadoras que precisavam viver de forma independente o máximo possível, mesmo com pouca ou nenhuma reserva financeira.
Meu objetivo é manter as pessoas fora de asilos
afirma.
Yerian só começou a investir em um plano de aposentadoria aos 50 anos. Foi mãe que ficou em casa, enfrentou um casamento difícil e depois trabalhou mais de 20 anos na Clorox, em Dallas. Comprou uma casa pequena e teve uma boa renda, mas aos 60 ainda não podia se aposentar confortavelmente. Para garantir sua independência na velhice, sabia que precisava reduzir gastos e esticar suas economias.
Há cerca de dez anos, ao assistir ao programa “Tiny House Nation”, Yerian pensou se morar em casas pequenas poderia resolver seu problema financeiro a longo prazo. Por impulso, foi a um evento de casas compactas em Colorado Springs, visitou 50 casas em um fim de semana e se convenceu.
Comprou sua tiny house por US$ 55 mil em 2017. Depois, adquiriu 5,5 acres de terra em Hopkins County, transformou o local em parque para trailers, instalou água, luz, esgoto e 14 bases de concreto para as casas. Vendeu sua casa e sacou o plano de aposentadoria. Investiu US$ 150 mil em The Bird’s Nest — tudo o que tinha.
O arrependimento veio rápido. Quando visitou o terreno, viu um lugar queimado, tão isolado que não conseguia nem achar alguém para cortar a grama. Se fosse honesta, aquele lugar — a 70 milhas de Dallas, com sinal de celular ruim e pouca sombra — não era o ideal para aposentadoria, nem para ela.
Mas não tinha outra opção. Mudou sua tiny house para The Bird’s Nest em dezembro de 2021. Huff a acompanhou, trazendo sua própria casa ainda menor.
Mas ninguém mais apareceu. Huff viu a amiga desanimar.
Ela tinha um sonho. E não era esse sonho. Teve que se adaptar
A ideia de ser uma comunidade só de mulheres surgiu depois que Yerian organizou um workshop de ferramentas para mulheres na vila. Elas vieram de outros estados e acamparam em barracas.
Começamos a conversar ao redor da fogueira, e eu perguntei: ‘E se fosse só para mulheres?’ Foi unânime: ‘Seria incrível’
Depois, uma série de vídeos no YouTube chamada “Tiny Home Expedition” mostrou The Bird’s Nest. Yerian falou sobre o lugar, a questão da acessibilidade financeira e descreveu a vila como “uma comunidade de mulheres que empoderam mulheres”. Seu telefone não parou de tocar.
Na vila, sentadas na “cozinha” de chinelos, o clima era descontraído. Em uma hora, falávamos sobre homens — mais especificamente, sobre a regra de não permitir que homens durmam no local. A vila é para mulheres, mas e os trabalhadores, filhos, ex-parceiros, encontros? Yerian começou a pensar nisso depois que alguém perguntou no Facebook da vila:
Amigos homens podem passar a noite? E se alguém quiser casar?
Para Yerian, “só mulheres” era uma orientação, não uma regra rígida. Elas não odeiam homens, diz ela. Muitas têm filhos e netos queridos. Só esperam que os homens respeitem sua autonomia e inteligência — ou seja, que não mandem nelas, nem ensinem a usar ferramentas ou a arrumar o caminhão. Muitas pessoas perguntam:
Como vocês vão sobreviver sem homens?
Isso a irrita.
Aqui não tem ‘jeito errado’, a gente tenta até conseguir
Mas quando perguntou sobre sexo e namoro, ela se surpreendeu. Riram muito ao lembrar da conversa jogando cartas na noite anterior. Ela aceita a ideia de companhia e sexo, pelo menos de vez em quando, e imaginava que as outras também.
Mas todas disseram não. Nenhum homem pode passar a noite, nunca, por qualquer motivo.
Se está namorando, ele tem casa, né? Vai para lá. Se quer transar, vai lá
Riram muito. Huff entrou na brincadeira:
Todas as nossas casas têm rodas. Se alguém quiser morar com um homem, tem outros lugares para ir
disse ela, apontando para o espaço infinito além da cerca.
A risada diminuiu. Claro que há questões de segurança. Não dá para controlar todos os homens que queiram passar a noite. E homens mudam o clima. Quando eles entram, as mulheres param de falar sobre certas coisas, diz Huff.
Tipo o quê?
perguntei.
Que você faz xixi quando espirra?
respondeu Huff.
A risada voltou.
Depois da visita, Yerian falou sobre o peso que sente. Muitas mulheres vieram de vários lugares para morar ali, e ela se sente responsável pela felicidade delas.
Huff e Yerian discutem o papel dela. É dona do terreno, cobrando US$ 450 por mês por base de concreto, água e esgoto? Ou é mais uma conselheira, uma guia — “uma anfitriã”, como diz Huff? Yerian entende o ponto de vista de Huff: as moradoras pagam pelo espaço e utilidades, não pelo sentimento de pertencimento. Mas é esse sentimento que importa para Yerian. Por isso, ela visita todas diariamente, perguntando quem quer ir colher frutas, ao Walmart, ao IHOP, ou quem gostaria de uma piscina acima do chão, ou onde construir o novo galinheiro.
Sentada com uma perna dobrada, Yerian disse:
Nada contra vocês, mas às vezes penso: agora que tudo está meio que pronto, e agora? Vou fazer isso para sempre? É isso que tenho?
As mulheres responderam em coro:
É melhor que seja
E
Sim
*Matéria publicada originalmente no The New York Times.
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