No segundo turno das eleições de 2022, Jair Bolsonaro (PL) teve nada menos do que 75,28% dos votos para a presidência da república em Blumenau, terceira cidade mais populosa de Santa Catarina, percentual acima da média do estado (69,27%), conhecido como um dos maiores redutos da extrema-direita no país. Em um cenário como esse, seria de se esperar que um candidato jovem, de esquerda e defensor aberto dos direitos LGBTQI+ teria grandes dificuldades de se eleger.
Filho de pai pedreiro e mãe costureira, Jean Volpato, hoje com 33 anos, desafiou o status quo local, e chegou à Câmara Municipal com a maior votação da história do PT blumenauense. Gay assumido desde a adolescência, ele se recusou a abrir mão de suas bandeiras, mesmo diante de um ambiente extremamente adverso para quem empunha pautas progressistas.
Dois anos antes, em sua primeira experiência eleitoral, ele já havia surpreendido o próprio partido, ao conquistar mais de 12 mil votos para deputado estadual, fazendo campanha de “Uber” e com a ajuda de somente um amigo. “Muitas pessoas, inclusive, do nosso partido falavam: ‘Jean, não aborda esse assunto, porque o estado é muito conservador, tu não vai fazer nada de voto. É um assunto muito complicado’”, conta Jean.
Para quem lhe dizia isso, a resposta estava na ponta da língua: “Não. É uma questão de vida. Estou defendendo a minha vida, a vida dos meus iguais. Não quero voto de quem não vai votar em mim porque eu sou LGBT”.
Foi com essa coragem e ousadia que Jean se tornou uma das jovens lideranças políticas mais promissoras do Sul do País, com forte presença nas redes sociais, e clareza sobre como enfrentar o conservadorismo crônico de um estado governado por um dos grupos políticos mais reacionários do Brasil. “O desafio da esquerda não é furar a bolha, é ampliar a nossa bolha a tal ponto que, um dia, a sociedade esteja nela”, explica, em entrevista exclusiva ao Brasil Fora da Caverna, em que defende que o campo progressista não tenha medo de fazer o debate franco com aqueles que usam o preconceito e o ódio como instrumento de repressão das novas ideias.
BFC – Família e política
Jean Volpato – Minha família não (tinha envolvimento na política). Na família da minha mãe, o meu avô gostava muito de política. Ele era muito brizolista. Inclusive, a minha avó não votava no Brizola com raiva do meu avô. E a família do meu pai sempre foi despolitizada. Eles não debatiam muito política. (Meu envolvimento em política) iniciou no movimento estudantil. Fui do Grêmio Estudantil, depois DCE. Aí, sabe, quando a gente começa a subir o morro, não para mais.
BFC – Começo

Jean Volpato – No grêmio, comecei a ver que a política não era apenas a partidária. Como tinha aquela campanha antipolítica, e sempre teve isso na mídia, em qualquer lugar: antipolítica e antipartido. Eles usavam muito o PT para simbolizar o que que era a política. E o PT por muito tempo foi o antissistema, e depois, no governo, começou a ser o símbolo da política. Depois comecei a entender que não, a política, na verdade, é tudo que a gente faz coletivamente. Comecei a me interessar nas agremiações políticas. E vi que aquela que fazia a política coletiva era o PT. A única.
BFC – Reação
Jean Volpato – A minha mãe e o meu pai não deram muita bola. Agora, a minha avó falecida ficou muito assustada, porque ela dizia que no tempo dela a política era quase um “bang bang”. Principalmente no interior, era muita morte, tiro. Ela ficava muito assustada. ‘Ah, pelo amor, não larga, essa política, isso aí só dá morte’. Agora o pai e a mãe não. A mãe, por conta do histórico do meu avô, que gostava muito de política, já gostava um pouquinho mais. Mas também eles não eram muito de ficar debatendo a política.
BFC – Primeira candidatura
Jean Volpato – Foi em 2022. Fui candidato a deputado estadual. Eu trabalhava com a deputada federal Ana Paula Lima. Em 2018, a Ana Paula foi candidata a deputada federal pela primeira vez, e perdeu a eleição por um voto apenas. E a gente ficou com um sentimento de injustiça muito grande. Aí conversando com o esposo dela, o Odécio, trabalhei com ele.
Sou jornalista, então trabalhei muito tempo em mandatos na área da comunicação. Sempre um cargo muito técnico. Eu não tinha funções de coordenação política. E aí o Odécio, em 2022 falou: ‘Jean, tu que é um cara jovem, quem sabe vai ser candidato a deputado estadual já para iniciar amanhã ou depois um projeto político’. O estadual ajuda o federal. Eles começaram a se prevenir daquele um voto montando a chapa. Só que eu fui muito sem pretensão. Eu achei assim, ‘vou fazer no máximo uns dois, 3 mil votos’. E ainda na melhor expectativa.
Quando a gente é candidato pela primeira vez, tu pode fazer sete votos, 70, 700. A gente não tem noção, porque tu nunca foi testado na urna. E eu saí da eleição com 12.499 votos. Foi um boom para mim. Quando comecei a acompanhar a apuração num aplicativo que não era oficial do TSE, comecei a achar que era fake. E aí, em 2024, fui candidato a vereador aqui e fui o mais votado da história do nosso partido na cidade.
BFC – Primeira campanha

Jean Volpato – (Foi) extremamente sofrida. Para tu ter uma noção, eu não tinha carro. Fizemos a campanha toda de ‘Uber’ e ‘BlaBlaCar’. Eu optei por fazer a campanha em Florianópolis, porque aqui na minha cidade tínhamos três candidatos do PT. Pensei: ‘Ah, eu vou para Florianópolis. É uma capital mais progressista, tem universidade e tal’. E fiquei muito lá.
Rodei um pouco as outras cidades também. Na última semana, vim para Blumenau. E foi a minha sorte, porque foi aqui que eu fiz quase 6 mil votos, do total de 12 mil. Os outros espalhados pelo estado. E Florianópolis é uma curiosidade, porque tem um voto mais progressista, mas uma grande quantidade desse voto é do PSOL, não do PT. É o único lugar também do estado que o PSOL tem uma boa votação, porque no resto do estado, quem é de esquerda em Blumenau é PT.
Eu não tinha feito essa leitura. Mas, mesmo assim, a gente conseguiu um resultado legal. Eu só tinha amigo que me ajudava. Não tinha assessoria, nada de estrutura. A gente recebeu um pouco de recurso com o fundo eleitoral, mas não foi nada astronômico. Foi o mesmo de acordo com o que todos receberam também, a grande maioria.
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BFC – Resultado surpreendente

Jean Volpato – Primeiro, porque eu sempre gostei da política. Em 2012, já queria ser candidato a vereador, não consegui, porque (trabalhava) no mandato de um vereador e eu achei um pouco antiético ser candidato. Em 2016, a mesma coisa. Em 2020, teve a pandemia, fiquei muito receoso de pegar alguma coisa, passar para os meus pais. Em 2022 foi quando eu realmente decidi que era a hora. Primeiro, acho que foi a minha vontade de estar na política. Não foi uma coisa imposta por ninguém. Eu construí estar na política.
A segunda questão foi a conexão com as pessoas. Eu construí, através das redes sociais, de alguns grupos que a gente participa como o movimento estudantil, o movimento LGBT. A gente entrou em alguns movimentos importantes aqui em Santa Catarina, que têm feito um debate de alguns segmentos que, historicamente não eram muito vistos aqui. Pra tu ter uma ideia, em 2022, decidi fazer a minha campanha na defesa da população LGBT aqui em Santa Catarina.
É um estado que é, realmente, conservador, e muitas pessoas me diziam, pessoas, inclusive, do nosso partido falavam: ‘Jean, não aborda esse assunto, porque o estado é muito conservador, tu não vai fazer nada de voto. É um assunto muito complicado’. Eu disse: ‘Não, é uma questão de vida. Estou defendendo a vida, a minha vida, a vida dos meus iguais’.
Se eu tiver que perder voto por conta da defesa da nossa população LGBT, não quero voto de quem não vai votar em mim porque eu sou LGBT. Decidi abordar essa pauta na campanha. E foi um pouco curioso, porque depois que a gente fez uma votação importante, daqui a pouco apareceu um monte de defensor LGBT, inclusive no nosso partido que nunca tinha abordado a pauta. Mas, provamos que também dá voto defender a população LGBT e fazer o debate.
Acho que isso tudo agregou. Porque quando eu decidi em 2022 ser candidato, também comecei a me perguntar: ‘quem eu represento? Qual é o público? Quem vai votar em mim, por quê?’ Porque não existe candidato de si mesmo. Aí eu pensei: ‘a deputada Ana Paula representa as mulheres, as enfermeiras, porque ela é enfermeira’. Ela tem um grupo que já sai com uma base. Não significa que tu vai ser o candidato só daquele grupo, mas tem que ter uma base. Eu saí com esse espírito. E eu acho que o resultado também foi de conseguir identificar qual era o grupo que eu representava e conseguir dialogar com esse grupo. E através de uma carência que existia de um debate que aqui praticamente era invisível antes da nossa candidatura.
BFC – Esquerda em reduto bolsonarista
Jean Volpato – É bem desafiador. Eu aprovei, por exemplo, aqui na Câmara três projetos em defesa da população LGBT. Para mim foi um marco histórico aprovar numa Câmara que também é muito conservadora. A gente fez todo um processo de muito diálogo, interno inclusive, nos partidos para conseguir fazer essa aprovação.
Mas chegou no prefeito (Egídio Ferrari, do PL), que além de vetar os projetos, pratica LGBTfobia institucionalizada. Diz que não vai aprovar porque atenta contra a família, a moral e toda aquela papagaiada que a extrema-direita gosta de fazer para enganar aqueles que são ignorantes. Mas esse desafio que me dá combustível para lutar. É saber que existe o que mudar que me anima estar na política. Porque se já não tivesse o que mudar, que transformar, também já não tinha sentido estar na política. E eu vejo que tem muita coisa aqui no estado.
Acabei de aprovar aqui também na Câmara, por exemplo, o ‘Dia do Paraense’. Parece ser muito simbólico, mas esse simbolismo carrega uma expressão muito forte aqui em Blumenau. Temos uma comunidade de 12 mil paraenses, quase um bairro. E eles sofrem muito a xenofobia. Uma parte do empresariado de Blumenau não quer debater o fim da xenofobia, mas também não abre mão da força de trabalho desses paraenses que muitas vezes são explorados.
A gente faz o debate do combate ao preconceito, da diversidade cultural. Teve uma parcela que achou um absurdo: ‘como um vereador de Blumenau fazer o Dia do Paraense’?. Mas o dia da Oktoberfest para discutir a cultura alemã, pode. A gente cria o debate através desse tipo de contradição. Eu exploro muito a contradição no parlamento, porque eles acabam ficando sem resposta. E é nessa contradição que acredito que a gente vai quebrando a ignorância, aquela formação mental que é o ‘pré-conceito’, o ‘anti-conceito’.
Quando tu começa a refletir, começa até a ter dificuldade de defender aqueles absurdos que a extrema-direita defende. Então, eu consegui perceber, inclusive nos vereadores que têm alguns temas que eles abordavam e já não abordam mais, porque são temas que eles não conseguem mais refutar. Eu gosto muito do debate. Eu defino a política como a arte do diálogo. A gente tem que dialogar muito, debater muito e é isso que fortalece a democracia.
BFC – Prefeito bolsonarista
Jean Volpato – (O prefeito) é Egídio Ferrari do PL. É um delegado da Polícia Civil. Entrou na política porque começou ser aqueles delegados da causa animal, gerou comoção e tal. E foi deputado estadual, um dos mais votados da cidade. Não era da política. Mas teve um sentimento ali de injustiça, porque também tinha um outro delegado que era da política que acabou vendo a ascensão dele, transferiu ele para outra cidade. Aí a população aqui se sentiu injustiçada por isso. E, na eleição em que fui candidato a deputado estadual, ele se elegeu deputado pelo PTB e o governador (Jorginho Melo, também do PL) trouxe ele para o PL para ser candidato a prefeito, através de um mapa que montou para eleger no mínimo 100 prefeitos e conseguiu eleger 90 e poucos. Ele é um produto de organização política do governador.
BFC – A esquerda e “a bolha”

Jean Volpato – Eu nunca concordei com o conceito de que a gente precisa furar a bolha. Nós, a esquerda, o nosso desafio não é furar a bolha, é ampliar a nossa bolha a tal ponto que, um dia, a sociedade esteja nela. É nisso que eu vejo que a direita, a extrema-direita, tem tido sucesso. Porque quando tu quer fazer uma organização digital, tem que ter primeiro o teu exército, o teu grupo, a tua bolha. E quando a gente vai com esse discurso de furar a bolha, começa com aquela história de que temos que falar para todos. Daí caímos numa certa mediocridade digital que ninguém quer seguir.
Ninguém quer acompanhar quem não tem opinião, não se posiciona. Na história não existiu revolução sem líder, não existiu mudança social sem quem se propusesse a liderar. As pessoas querem seguir também alguém que se referencia. A partir daí, tu tem o entendimento que tem o teu tema, teu nicho, mas também tu vai dialogar. Vai fazer o debate de acordo com os temas segmentados para os grupos sociais que tu vai debater. Por exemplo, aqui a gente fez uma discussão muito grande em relação à policlínica que o governo Lula, através do PAC, liberou para Blumenau e o prefeito não quis. Fizemos um debate a tal ponto que viralizou e um grupo que não votava em nós, do PT, mas que queria a policlínica aqui porque quer saúde. Nós estamos com uma fila de 50 mil pessoas que estão na, na fila de cirurgia. Então, é esse tipo de debate que fura a bolha.
Não é esse pensamento que a esquerda tem que falar manso, falar mole, abandonar sua própria ideologia. Ou seja, para furar a bolha, eu tenho que ser uma direita, eu tenho que ser um centro-direita? Acho totalmente equivocado esse pensamento. Bem pelo contrário, a gente tem que reforçar o nosso debate. Agora, evidentemente, no processo eleitoral, você vai adotar estratégias.
Quem vai para a eleição para tentar convencer alguém já está um pouco perdido. Aqui, a nossa candidata a prefeita de Blumenau, Ana Paula, fez o debate da tarifa zero aqui. Eu disse, olha, na eleição, eu acho que a gente não tinha que fazer esse debate, porque a cidade não queria. Agora, no mandato, a gente está fazendo a discussão da tarifa zero. Temos que primeiro convencer as pessoas que o tarifa zero é importante. A minha vizinha estava convencida a votar na nossa candidata. Ela disse: ‘Jean, eu não vou mais votar nela, porque eu sou aposentada, uso o ônibus e não quero mendigo dentro do ônibus’.
Quer dizer, o egoísmo dela falou mais alto nesse caso. E ela não conseguiu compreender a importância da tarifa zero. Às vezes, a gente pega essas pautas que a esquerda defende, mas que acha que é no processo eleitoral que a gente tem que apresentar. Durante os nossos mandatos, mas não só mandato, nos movimentos sociais, nas inserções de ativistas digitais é o momento de convencer as pessoas. Furar a bolha é saber fazer o debate exato, no momento exato, para o grupo segmentado que tu vai fazer, que é aquele que quer ouvir.
Cada um quer escutar a música que gosta. A gente tem que parar de achar que as pessoas vão escutar a música que a gente gosta, e entender que a sociedade é plural, diversa, complexa. Ter esse entendimento também é um meio caminho para conseguir furar a bolha que eles tanto falam, que para mim não é furar a bolha. É você segmentar essas bolhas, saber organizar, dialogar para ela estrategicamente.
BFC – Carência em meio à riqueza
Jean Volpato – Blumenau é uma cidade que, realmente, comparado com algumas cidades do Brasil, tem um certo desenvolvimento. Porque que o estado de Santa Catarina tem um processo diferenciado? Eu até faço uma correlação com os próprios Estados Unidos.
Porque Santa Catarina, se você pegar o processo, de colonização, de certa forma aqui os imigrantes italianos, alemães, portugueses, houve como se fosse uma reforma agrária. Porque eles receberam um pedacinho de terra para cultivar, plantar, se desenvolver, diferente do que aconteceu naqueles estados onde teve uma presença forte da escravidão.
Aqui nós não tivemos uma presença forte da escravidão. Até porque não temos grandes propriedades, são pequenas propriedades. Não temos latifúndio em Santa Catarina. São pequenas propriedades e a agricultura familiar, inclusive, é muito forte. Diferente do processo de onde teve a presença forte da escravidão, Lei Áurea, cada um se vira agora para buscar sobreviver como pode. Muitos não sobreviveram e quem conseguiu arrumar um pedacinho de terra se manteve. Quem não conseguiu está à mercê até hoje, seus familiares de aluguel.
Mas aqui temos muita desigualdade social, cultural. Eu fui para a tribuna: ‘o governador todo dia está na TV, na rádio, falando que Santa Catarina é o estado mais seguro do Brasil. Mas é seguro para quem? Santa Catarina é o décimo estado que mais mata mulher no nosso país, que mais tem presença de feminicídio. Só esse ano foram 47 feminicídios. São 320 mulheres mortas desde 2020. Então, para as mulheres não é um estado mais seguro do Brasil.
Para quem sofre xenofobia, não é um estado mais seguro no Brasil. Em Blumenau, temos muitos bairros carentes porque tem uma topografia que como se fosse um vale. Muitas pessoas vivem nos morros. Temos muitas favelas já mapeadas. Mas esse tipo de ocupação urbana é escondida. Quem vem vê o centro, alguns bairros centrais são bonitos, mas não consegue enxergar aquilo que foi escondido. Temos uma área central que é do lado da prefeitura, e uma ponte muito antiga, a Ponte de Ferro. Ali existia, há 30 anos, uma favela. E foi feito um processo de retirar todas essas pessoas dali e colocar em outro lugar para não aparecer.
Então, tem sim um sentimento dentro das esferas da extrema-direita que tem governado o nosso estado, nossa cidade, de um pensamento de um certo higienismo, que tem que limpar. Não tem que resolver. O primeiro ato do prefeito foi tirar as pessoas em situação de rua do centro da cidade. Ele não resolveu o problema, porque essas pessoas acabaram se deslocando para os bairros. Mas, isso, para ele, não é um problema. Ele quer que o centro esteja sem pessoas em situação de rua. Eles se incomodam muito com o processo de arte urbana. Acham que é pichação. Claro, tem a pichação que a gente também não defende. É um sentimento que foi criado e cultuado, e que a gente, através do debate, está tentando desmistificar.
É um desafio grande, não tenho muitas pretensões que a gente vai resolver, mas que é importante fazer a resistência. Porque uma coisa eu aprendi: tem muita gente que pensa igual a gente. Santa Catarina não é um estado majorado de direita. Tem uma parcela aqui, por exemplo, que fala dessa perspectiva da direita, uma parcela que é bem considerável, mas não é a maioria. Que escolheu estar daquele lado do ódio.
Tem uma outra parcela que é simplesmente ignorante, influenciável. Ela se influencia com aquele discurso de quem consegue se organizar e pautar o discurso da política. E tem a nossa parcela que é ver a roda da história girar para frente, que é progressista. Santa Catarina é um território ainda em disputa, não é um território perdido. E por isso que é tão perigoso, às vezes, quando eu vejo alguns influenciadores, igual recentemente teve um, se eu não me engano, de São Paulo, que disse que a Oktoberfest só tem nazista, por exemplo. Esse é um discurso perigoso e, num certo ponto, até burro, porque tu acaba colocando essas pessoas que estão em disputa no colo da direita.
A gente não pode fazer esse discurso. Temos que desconstruir esse discurso de que Santa Catarina é deles já. Porque tu cria um senso coletivo. Quando você coloca tudo no colo dos outros, é todo mundo é isso, todo mundo é aquilo. E essa generalização não é muito boa. Aliás, não é nada boa para a gente, progressistas que estamos resistindo aqui em solo catarinense.
BFC – Renovação
Jean Volpato – Eu vejo que tem, tem uma questão, inclusive, interna nos nossos diretórios, é uma crítica que eu faço também, não só aos diretórios, a maioria dos sindicatos, a gente vê, são pessoas que já estão lá há 15, 20 anos. Tem uma dificuldade no nosso meio de fazer esse processo de permitir que outras lideranças ocupem espaços. Tem um certo processo de segurar aquele espaço e não deixar que outras pessoas venham. Isso é uma realidade. É um debate que eu faço muito internamente.
BookmarkCuido muito no processo de falar apenas de renovar pelo novo. Porque a direita, a extrema-direita tem uma facilidade muito grande de apresentar novas caras. É o filho do empresário, do doutor. O trabalhador quer conseguir ter uma faculdade, ele tem uma dificuldade maior de acesso da política. A gente precisa uma renovação de ideias. O novo está simbolizado em um homem de 80 anos, que é o Luiz Inácio Lula da Silva, que é a grande novidade da política. Isso é o novo para mim. Agora, é um fato que nós precisamos pensar na oxigenação interna, na renovação dos nossos quadros.
