O velório de Alice Martins Alves, de 33 anos, reuniu dor, revolta e uma pergunta que ecoa entre os que a amavam: “Que ódio é esse que matou a minha filha?”. O pai, Edson Alves Pereira, não consegue entender a violência que tirou a vida da mulher com quem dividia casa, risadas e tardes de filmes no bairro Betânia, em Belo Horizonte.
Alice foi agredida no fim de outubro, na Savassi, por um homem acompanhado de outros dois. Voltou para casa machucada, com o nariz quebrado e as pernas roxas. Dias depois, o quadro piorou. Passou mal, perdeu peso, e acabou internada com uma infecção que lhe custou a vida. Morreu no domingo (9), após uma cirurgia de emergência.
Para Edson, a dor da perda se mistura à indignação com o ódio contra pessoas trans.
Ela era minha parceira, meu orgulho
lamentou.
Ao lado de amigos e militantes que cobravam justiça no Cemitério Parque da Colina, o pai lembra do amor que aprendeu a viver sem preconceito, um processo de aceitação que virou amizade e cumplicidade.
Deixei de viver a minha vida para acompanhar a dela. Só queria protegê-la.
Alice era formada em Estética e Cosmetologia, vaidosa e sonhadora, mas enfrentava o peso do preconceito no trabalho e nas ruas. Agora, sua morte se soma à estatística de crimes de ódio contra pessoas trans em Minas Gerais, e à sensação de impunidade.
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Enquanto a Polícia Civil investiga o caso, o pai de Alice tenta dar sentido ao vazio.
BookmarkEla só queria viver em paz
disse, entre lágrimas, ao se despedir da filha e melhor amiga.
