Gislene, o marido e o filho, Leozinho, optaram por morar na Vila União há dois anos. Em meio à incerteza sobre a possibilidade de ficar no local, no bairro Tatuquara, e da chance de regularização fundiária, eles participam de atividades comunitárias. No caso, o reforço escolar. Apenas na Vila União, para ter uma ideia, são atendidas cerca de vinte crianças.
O papel da Educação Popular em comunidades periféricas e áreas de ocupação tem sido fundamental para o cotidiano desses locais. Muitas atividades são voltadas para as crianças, beneficiando diretamente os pais trabalhadores e, sobretudo, as mães trabalhadoras.
O reforço, então, configura-se num apoio, seja para que se realize as tarefas domésticas e, principalmente, para a possibilidade de trabalhar e saber que o filho está num lugar seguro no contraturno.
O meu filho participa do reforço desde quando me mudei pra casa. Tem sido muito bom no desenvolvimento do meu pequeno e sem falar que sobra um tempo pra que eu possa fazer minhas coisas em casa sem me preocupar, porque sei que lá ele tá bem cuidado e em segurança por que os professores são dedicados e carinhosos com as crianças
afirma Gislene, moradora da rua 2 da vila União, sobre o reforço.
Atividades educativas

Atividades educativas nesse sentido também tem acontecido em comunidades e ocupações como Vila União e Pontarolla, no bairro Tatuquara, bem como nas áreas Portelinha (Santa Quitéria), 29 de Janeiro (Uberaba), além de experiência de cursinhos populares que ocorrem em Curitiba.
O reforço escolar tem sido uma experiência de êxito, tanto no sentido de melhorar o conhecimento das crianças que frequentam as escolas públicas da região, bem como o fortalecimento do espírito comunitário e solidário
compreende o padre redentorista Parron, da Igreja Perpétuo Socorro, um dos idealizadores da iniciativa no Tatuquara, junto à Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT).
Juliana Morais, trabalhadora da construção civil, é uma das coordenadoras da comunidade Pontarolla, também no Tatuquara, localizada às margens da Reserva do Bugio. O atendimento, num sábado repleto de atiividades, no centro cultural dessa ocupação que possui mais de oito anos, hoje abarca 22 crianças.
Recentemente, definiram que a atividade de reforço configura-se como “Reforço Popular”, uma vez que complementa a Educação Pública, sem buscar atravessar ou substituir o seu papel.
Já chegamos a 40 crianças, de quatro até 13 anos, que estão animadas, gostam muito, ficam ansiosas. Ontem mesmo crianças perguntaram e ficam esperando o sábado pra interagir. Esse processo tem melhorado a educação e respeito das crianças
aponta.
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Paulo Freire na ponta do lápis
Uma das organizações que se destaca, no atual período, pelos trabalhos de solidariedade e educação popular, surgida no caldo de ações durante a pandemia da Covid-19, chama-se Marmitas da Terra.
Dividido em setores de atuação, uma das suas áreas tem sido justamente a Educação Popular. Recentemente, o coletivo tem se destacado com premiações, entre as quais a indicação do Prêmio Pacto pela Fome.
Entre os trabalhos realizados, uma das educadoras, a professora estadual Elza Dissenha, aponta que as atividades abrangem a ciranda (cuidado de crianças pequenas durante atividades) na ocupação Portelinha, rodas de conversas no contexto da Educação de Jovens e Adultos (EJA), além da alfabetização.
Nessa caminhada, como se diz nos bairros periféricos, há muitas questões que são desafios no trabalho com as comunidades. Entre as quais, deparar-se com questões relativas ao patriarcado, uma vez que as mulheres são as organizadoras das atividades comunitárias – porém, muitas vezes enfrentam limites e pressão em casa dos maridos por essa participação.
O método de alfabetização, em particular, na voz de Elza, Mistura o “Yo sí puedo”, desenvolvido em Cuba a partir da experiência em vários países da América Latina junto com o acúmulo do ciclo de cultura freirianos. Freire é um apontamento atual para o trabalho de educação popular, a partir da identificação de temas geradores, além da relação entre a linguagem e o contexto social do educando.
Nem sempre damos a devida importãncia para Freire, uma pessoa que pensou a linguagem a partir do nosso país, Freire é o que mais cabe nos trabalhos populares
aponta Dissenha.
A partir do contexto e da realidade do educando, como ela afirma, é possível “comparar o preço do gás durante a gestão de Lula e da época de Fernando Henrique Cardoso, o gás está mais em conta do que naquela época, por exemplo”, compara.
BookmarkPor Pedro Carrano
Reportagem especial – uma parceria entre Vigília Comunica e Brasil Fora da Caverna (BFC)
