Skip to content Skip to footer

O genocídio da população preta continua em curso enquanto os carniceiros comemoram

Chacina no Rio
(Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

A guerra no Rio é um projeto de morte. Um genocídio de longo prazo, meticulosamente planejado e executado. A princípio, uma operação com centenas de mortos pode parecer falta de inteligência, mas se conseguirmos pensar, mesmo diante da matança, em como age a polícia militar, sabemos que é só projeto.

A perversidade ganha contornos cínicos, como se o crime organizado fosse um mal menor, um parasita que ocupa o vácuo do Estado. Doce mentira. O Estado não está ausente. Ele está presente, ativo e letal, na forma da polícia. A mesma polícia que não protege, mas invade; que não serve, mas subjuga.

No momento do “combate”, não se discute cidadania, não se respeita humanidade. Todos os estudos sobre segurança pública mostram que há dezenas de maneiras mais eficazes de se combater o crime organizado, mas para o Estado e seus soldadinhos de chumbo, para os políticos que se elegem em cima de corpos pretos, pouco importa.

Queremos ficar livres da bandidagem, sim. Mas da bandidagem de qual fração? Pois o crime da favela, a milícia do asfalto, o crime do colarinho branco e o crime político não só coexistem como fazem negócios. E no centro desse comércio da morte, o Governo do Estado não é espectador; é o gestor. Sua política de segurança é a política do massacre. É a licença para matar, um decreto de exceção que transforma corpos pretos em alvo móvel.

Então todo mundo era bonzinho? Leva pra casa

dirão os juízes apressados das redes sociais enquanto nem a polícia sabe quem matou e por que matou.

A desigualdade empurra, o abandono empurra, e o Estado, longe de negligenciar, cumpre seu papel histórico: o de algoz. A polícia não é uma força em guerra; é o braço armado de um projeto de higienização social. Quando ela entra na favela, não é para impor a lei. É para reafirmar a ordem suprema: a de que algumas vidas são descartáveis.

Os policiais, em sua maioria pretos, morrem nessa guerra dos brancos engravatados. Os jovens pretos são executados, as famílias pretas choram nessa guerra dos brancos e o Governo Estadual vai assinando apressadamente os relatórios de “autos de resistência”.

O teatro da brutalidade toma conta da TV, os carniceiros da internet procuram as fotos dos corpos, o governador e o secretário de segurança já contabilizam quantos votos cada corpo crivado de balas vai valer na próxima eleição.

O genocídio da juventude preta é celebrado no Palácio Guanabara, enquanto as mães negras tentam entender se o monte de carne vermelha ainda pode ser chamado de filho.

O favelado não merece viver. É a política do extermínio. Se houver pressão popular, só jogar a culpa em dois ou três comandantes e seguir a vida, seguir a morte.

Bookmark

Aquiles Marchel Argolo

Jornalista, escritor, fã de cultura pop, antirracista e antifascista. Apaixonado por comunicação e tudo que a envolve. Sem música a vida seria impossível!

Mais Matérias

29 out 2025

Número de mortes em chacina no Rio passa de 130, diz defensoria

De acordo com o órgão, o balanço atualizado soma 128 civis e quatro policiais, totalizando 132 mortos
29 out 2025

Movimentos populares denunciam execuções sumárias e impedimento de socorro a feridos em operação no RJ

Vida dos moradores das favelas está sendo tratada como “dano colateral em operações”, diz federação
29 out 2025

Cinco governadores do RJ foram presos por corrupção

Só Nilo Batista (PDT), governador entre 1994 e 1995; e Benedita da Silva, governadora entre 2002 e 2003 não foram presos
29 out 2025

Governador do RJ deixou de usar R$ 190 milhões repassados pelo governo federal para segurança

Do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), foram transferidos mais R$ 288 milhões
29 out 2025

Governadores de direita fazem política em cima de cadáveres

Bolsonaristas vão ao RJ expressar “solidariedade” a Cláudio Castro, mas todos eles boicotaram a PEC da Segurança enviada ao Congresso em abril

Daniel Alves reaparece como pregador evangélico em culto evangélico na Espanha

Daniel Alves reaparece como pregador evangélico em culto evangélico na Espanha

Como você se sente com esta matéria?

Vamos construir a notícia juntos

Deixe seu comentário