Em mais um caso envolvendo uso indevido de dinheiro público de emendas e bolsonaristas, uma reportagem do UOL revelou que o vereador Gilberto Nascimento Jr. (PL-SP) destinou R$ 478,5 mil em emendas parlamentares para custear a infraestrutura de três manifestações antidemocráticas, de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, realizadas na Avenida Paulista em 2025.
Os recursos, originários da Secretaria Municipal de Turismo de São Paulo, foram liberados com aval técnico da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) pouco antes de cada evento. Os valores direcionados foram de R$ 190 mil para o ato de 6 de abril, R$ 142.754,11 para o de 29 de junho e R$ 145.710,92 para o de 3 de agosto.
A documentação das emendas apresenta graves omissões formais. Nos formulários oficiais, o vereador descreveu as destinações apenas como “evento”, sem mencionar o caráter político das manifestações. Campos obrigatórios como CNPJ do beneficiário, razão social, endereço, justificativa e metas ficaram em branco – mesma informação que Nascimento costuma preencher em outras emendas de sua autoria.
Em nota, a assessoria do parlamentar defendeu a destinação, afirmando que a cidade recebe constantemente grandes eventos que necessitam de estrutura para “organização da multidão e manutenção da ordem”. Segundo o vereador, os recursos foram aplicados em itens como grades de contenção, torres de observação (solicitadas pela Polícia Militar), banheiros químicos e ambulâncias.
Um documento detalhado obtido pela reportagem especifica os gastos do ato de 3 de agosto, incluindo R$ 36.950 em grades de contenção, R$ 19.965 em 1.650 kits de lanche, R$ 11.453 em banheiros químicos e R$ 10.520 em diárias para produtores executivos, entre outros itens.
A Secretaria Municipal de Turismo identificou um dos eventos como “Movimento nas Ruas – AVEC” em documentos internos, referindo-se à Associação Vitória em Cristo, comandada pelo pastor Silas Malafaia, um dos principais organizadores dos atos bolsonaristas, em parceria com o Movimento nas Ruas, grupo ligado a políticos de direita.
Especialistas ouvidos pela reportagem questionam a legalidade do uso de emendas parlamentares para eventos de natureza político-partidária, argumentando que a prática pode violar o princípio constitucional da impessoalidade.
A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, limitou-se a afirmar que cabe aos órgãos competentes “garantir a ordem pública e a segurança dos participantes, independentemente da temática da manifestação”.
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