Vindo da Inglaterra no século XIX o futebol, praticado nesta época por jovens brancos e de classes altas, era a principal distração da elite brasileira. Porém, já no início do século XX ele foi apropriado pelas classes mais populares e racializadas, se transformando em uma grande paixão nacional.
Ainda assim, mesmo com a popularização, é possível verificar que neste esporte e dentro dos estádios, as marcas da desigualdade persistem até os dias atuais. Altos preços dificultando o acesso aos estádios, segregação de setores, segregação de clubes, e até o sonho de crianças e adolescentes de viver do futebol continua desproporcional.
E em um país tão desigual como o Brasil, a simbiose entre futebol e política se torna frequente, pois seja nos estádios ou nos protestos mais acalorados, a vontade popular em participar e expressar seus anseios e desejos são as vertentes principais para geração de uma grande transformação frente ao futuro.
E por isso o futebol torna-se uma ferramenta de luta para um mundo mais justo. O Futebol é luta, é coletividade, são alguns em busca do desejo de centenas, até milhares de torcedores. Características similares ao campo progressista onde a batalha é hercúlea por mais representatividade, democracia e justiça social, contra o grande capital que exclui e gera tantos desgastes para as sociedades.
E na cidade de Curitiba-PR, onde o conservadorismo por muitas vezes predomina, que algumas Ligas de campeonatos de futebol foram criadas com o intuito de juntar progressistas e formar uma grande coletividade.
A Liga Portal Comuna (@liga_portal_comuna), que acumula a “taça LPC” e a “Copa Havana”, a Liga João Saldanha (@ligajoaosaldanha) e a Liga Antifascista (@ligadefutebolantifascista), são bons exemplos de campeonatos realizados na capital e contribuem para a coletividade.
Mas, nem tudo são flores, pois organizar os campeonatos e montar um time que tenha, para além do futebol, um elenco com pensamentos progressistas e que esteja engajado em fazer algo a mais do que somente jogar para si ou para seu time, a fim de construir uma coletividade para uma sociedade que pensa fora da caixa, não é fácil. Mesmo assim, os campeonatos resistem.
Lucas Finkler, presidente da Liga João Saldanha destaca que a Liga que está em seu oitavo ano e segue crescendo, possui o objetivo de mostrar que é possível, mesmo em uma cidade como Curitiba, marcada por cicatrizes do passado recente, criar um ambiente seguro e de lazer, onde a consciência política de quem acompanha nosso campeonato seja favorecida.
Ele destaca que, acima de tudo, a Liga é:
Um projeto social e esportivo, onde, a partir do futebol, a maior paixão nacional, pode se construir um espaço de convivência, organização e fortalecimento dos laços da classe trabalhadora, consolidando-se como um espaço de referência da esquerda Curitibana. Mais do que futebol, estamos construindo uma verdadeira rede de apoio da esquerda curitibana, que continuará a se expandir, abrindo caminhos para novos projetos e consolidando a Liga como um espaço de transformação social.
Finkler ainda destaca que os maiores desafios de manutenção deste formato de campeonato são consequências do sistema econômico vigente, e que de alguma forma encontra-se em colapso.
Especialmente em meio à profunda crise do capitalismo, que agrava desigualdades e limita o acesso ao lazer e à participação social, o maior desafio que vivemos é manter a Liga financeiramente viável para todos os atletas. Por ser autogerida (financiada pelos próprios participantes) muitas vezes precisamos renunciar a melhorias no campeonato para garantir que ninguém deixe de participar por limitações financeiras.
Para Alexandre Inácio – conhecido como Katú e atual presidente do Esquerdopatas (@esquerdopatasfc), time que disputa tanto a Liga Portal Comuna e suas taças, quanto a Liga João Saldanha, mesmo em meio a boas vitórias e os primeiros títulos, algumas dificuldades para manter o engajamento dos jogadores são encontradas.
Há 02 anos, eu, um esquerdista nato, fui convidado a abraçar a ideia de formar o coletivo Esquerdopata. O nome, um tanto extremo, foi escolhido justamente para demonstrar de forma direta a direção do nosso grupo de amigos que de forma aleatória foi mostrando uma sinergia no pensar o mundo e na força que o futebol tem para ser um grito de resistência. Mas as dificuldades em encontrar amigos com a mesma ideologia, que joguem futebol e que topem expor ideais tão antagônicos em relação a maioria dos grupos que convivemos é espartana, pois além de sermos minoria principalmente em um quadro direitista e até extremista dos nossos atuais governantes do município de Curitiba e do estado do Paraná, ainda sofremos com o receio de retaliações nas empresas em que atuamos, pois em um contexto tão polarizado, pensamentos diferentes podem gerar reações sem sentido e discriminatórias.
Frente a essas explanações, não se pode encerrar essa partida sem convocar todo o campo progressista de Curitiba-PR e de todo o Brasil para participar e fortalecer essa construção.
Para marcarmos um gol para o futuro é necessário fortalecer as Ligas e os times entendendo que o futebol é um tema comum e gerador de transformação, e que esses espaços servem como ferramentas a serem fomentadas para isso. Para além do gol, há um projeto político em curso, e você pode (e deve) fazer parte. Entre em contato, e junte-se a esse movimento auxiliando nas ações em curso, colaborando financeiramente como patrocinador, apoiador ou como jogador. Junte-se a coletividade!
