Uma investigação da Polícia Federal expôs um sofisticado esquema de fraudes em concursos públicos, comandado por uma família de Patos, no sertão da Paraíba. O grupo, desarticulado na Operação Última Fase, é acusado de vender aprovações em certames de alto nível, como o Concurso Nacional Unificado (CNU), por valores que chegavam a R$ 500 mil.
O principal alvo da operação é o ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa, apontado como líder da organização criminosa. Expulso da PM em 2021, ele teria transformado as fraudes em um verdadeiro negócio familiar, com a participação dos irmãos Antônio e Valmir Limeira, da cunhada Geórgia Neves e da sobrinha Larissa de Oliveira Neves.
De acordo com o relatório da PF, o grupo usava métodos tecnológicos avançados, como pontos eletrônicos, dublês e acesso antecipado às provas, além de falsificação de documentos para permitir que outras pessoas realizassem o exame no lugar dos candidatos.
A investigação começou após a aprovação de três membros da família Limeira no cargo de auditor-fiscal do trabalho no CNU 2024 — um dos mais concorridos do país, com salário inicial superior a R$ 22 mil. A coincidência chamou a atenção dos investigadores, que descobriram que os gabaritos dos candidatos eram idênticos, inclusive nas respostas erradas.
Mensagens apreendidas nos celulares dos suspeitos revelam detalhes sobre as negociações. Larissa, que morava em São Paulo, viajou até Patos para realizar a prova. Conversas entre ela e o pai mostram que os dois discutiam a venda de imóveis e o uso de ouro e veículos como forma de pagamento pelo gabarito. Segundo a PF, Larissa teria recebido as respostas da prova horas antes do início do exame, além de um texto completo para a redação.
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Além da família Limeira, o inquérito cita outros nomes ligados ao esquema, como Thyago José de Andrade, conhecido como “Negão”, acusado de coordenar o repasse das respostas, e Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior, policial militar do Rio Grande do Norte e dono de uma clínica odontológica usada para lavagem de dinheiro. A advogada Laís Giselly Nunes de Araújo, de Recife, também aparece como beneficiária de fraudes em ao menos 14 concursos públicos.
A PF estima que o grupo atuava há mais de dez anos, oferecendo “serviços” de aprovação em concursos da Polícia Federal, Caixa Econômica, universidades, polícias civis e até na OAB. O esquema aceitava pagamentos em dinheiro, ouro e até procedimentos odontológicos.
A operação cumpriu três mandados de prisão preventiva e 12 de busca e apreensão na Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Os suspeitos responderão por fraude em concurso público, organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsificação de documentos.
O Ministério da Gestão e da Inovação informou que acompanha as investigações e cumpre todas as determinações judiciais. Após o escândalo, o órgão reforçou as medidas de segurança no CNU 2025, realizado no último domingo (5), com o uso de detectores de metal, códigos de barra individuais nas provas e monitoramento policial ampliado.
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