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Fatos reais sobre a vida de Marcelo Amânsio

(Foto: Freepik/Reprodução)

Dizem que o grande poeta Marcelo Amânsio trabalhou em um McDonald’s, num desses quiosques de sobremesas no shopping. Loucura, é claro. Uma informação que subverte a lógica e nos faz perguntar se realmente conhecíamos quem era o grande poeta ou se sabíamos apenas uma pequena fração de sua personalidade, apenas sua versão que aparecia nas capas de revista, nas crônicas de jornal e nas entrevistas na televisão, e mesmo o mundaréu de livros publicados, mais de 700 somente no Brasil, talvez não fosse capaz de nos dar uma visão clara de sua vida.

Boato, alguns dirão, dos mais ridículos até, um poeta com a fama de Marcelo Amânsio jamais passaria despercebido, seria reconhecido no ato, mas quem confirma que a história é verdade das mais verdadeiras diz que o poeta, ao se esconder em plena vista, escrevia mais um de seus poemas certeiros e necessários, uma crítica ferrenha à sociedade, ao consumismo, ao shopping e às máquinas de sorvete. 

Dizem que o grande poeta cumpria a nobre tarefa de produzir e servir os sorvetes enquanto um colega recebia os pedidos, mas muitas vezes acumulava as duas funções nos dias em que o referido colega faltava ou quando este era substituído e a reposição demorava dias, semanas até, fato que acontecia todos os meses. 

A rotatividade forçava o poeta a lidar também com os pagamentos e o atendimento inicial ao público, a parte menos agradável do trabalho, embora inspirasse sua produção, tanto de poesias quanto de sorvetes. Não pense o leitor que o grande poeta Marcelo Amânsio, vencedor de cinco Jabutis e diversos outros prêmios nacionais e internacionais, cumpriu tal função na adolescência, enquanto estudava ou saía do ensino médio, em um daqueles típicos empregos temporários em que os jovens ganham o primeiro salário para comprar livros por conta própria. Não, isso é mentira.

Não se engane: Marcelo Amânsio colocava os sorvetes nas casquinhas, com ou sem calda quente, com ou sem recheio, com ou sem tubetes, ao gosto do cliente, enquanto escrevia, na verdade no auge de sua produção literária, quando seus livros eram vendidos aos milhares, milhões até, em todas as livrarias do país, as edições novas, os lançamentos, as coletâneas, as reedições, haja tanto lançamento para tamanha procura, pensavam os executivos das editoras, já exaustos de criar e recriar novidades ligadas ao nome de Marcelo Amânsio para atender aos anseios do público, que sempre pedia mais e mais.

É fato comprovado por imagens que ao receber seu terceiro Prêmio São Paulo de Literatura o grande poeta foi para a cerimônia com o uniforme de trabalho por baixo do blazer, a pressa de um dia corrido no shopping confundida com excentricidade, um desvio no entendimento muito comum quando trata-se dos grandes poetas.

Marcelo Amânsio, como não poderia deixar de ser, com o espírito revolto e inquieto dos beletristas, liderou a primeira Grande Greve dos Atendentes do McDonald’s, um movimento belíssimo que reivindicava melhores condições de trabalho e um vale-refeições mais justo, de ao menos R$30 diários e resultou, é claro, na demissão de toda a liderança grevista, no caso apenas o próprio Marcelo Amânsio, uma vez que os colegas apoiavam o movimento e davam sinais de incentivo nas greves, mas tudo velada e timidamente, não estavam interessados em dar a cara à tapa por seus direitos, mais um triste exemplo da apatia política da nossa combalida juventude. Ser líder de greve no McDonald’s mostrou-se um ofício tão solitário quanto a poesia.

Coincidência ou não — e se há uma coisa que as revelações da poesia de Marcelo Amânsio já nos ensinou é que coincidências não são nada mais que tropeços do destino, em suas belíssimas palavras — a derrocada da carreira e da vida do poeta ocorreu logo após sua demissão.

Foi quando parou de escrever seus poemas necessários e investiu em poemas realistas, brutos, crus, o que desagradou a crítica e irritou seu fiel público, que não via mais o engajamento e a necessidade de outros tempos em sua obra. Restou ao grande e premiado poeta, um dos últimos de sua espécie, trabalhar em uma agência de publicidade, escrevendo posts comemorativos para as redes sociais de marcas de perfume.

Seus biógrafos, três ao todo, desmentem cada um desses absurdos.

Bruno Zermiani

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