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Cultura nas ruas, povo em movimento: a queda da máscara da extrema direita

(Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Não foi apenas mais um domingo. Foi o momento em que a cultura fez pulsar a rebeldia que dormia no coração do Brasil e a transformou em multidão nas ruas, mostrando que a paciência do povo tem limite. A multidão que se ergueu contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia não foi apenas um ato isolado de indignação: foi a síntese de uma revolta social que vem se acumulando diante de um Congresso cada vez mais inimigo do povo e de uma extrema direita que, ao longo dos últimos anos, revelou sua face mais desumana e sistemática de ataque aos trabalhadores.

A extrema direita construiu sua narrativa se apresentando como “antissistema”, como patriotas revoltados contra uma ordem injusta. Mas cada fato concreto desmente essa máscara. Quando o Congresso discutiu o fim da escala 6×1, uma das medidas mais simples e ao mesmo tempo mais profundas de justiça social, foi a extrema direita que se levantou contra.

Quando o governo propôs a taxação dos bilionários, dos bancos e das casas de aposta e a isenção de imposto para os mais pobres, foi esse mesmo grupo que se opôs, escancarando de que lado está. O patriotismo falso cai por terra quando o que se defende é a manutenção dos privilégios de poucos às custas do sacrifício da imensa maioria.

Não é por acaso. Enquanto o povo busca dignidade, vemos Eduardo Bolsonaro articulando com Donald Trump para tentar interferir no Judiciário brasileiro e na soberania nacional. Vemos Nikolas Ferreira atacar o PIX com desinformação, num momento em que o país avançava no controle sobre operações financeiras suspeitas.

Vemos ainda as mesmas lideranças tentarem desacreditar a maior operação contra o crime organizado da nossa história, revelando que seu compromisso não é com a pátria, mas com a manutenção de um sistema criminoso que garante poder e riqueza aos de sempre. A máscara cai: não são rebeldes antissistema, são o próprio sistema travestido de caos.

É nesse contexto que as ruas se tornam palco de um despertar. A PEC da Blindagem e a PEC da Anistia são mecanismos articulados para proteger corruptos e golpistas, para perpetuar um Congresso que amplia seu poder às custas do povo — por meio de emendas bilionárias, votações secretas e manobras que sufocam a democracia.

Mas o excesso cobra seu preço: a gula da extrema direita, que tenta “ganhar tudo” e fazer o governo sangrar a cada semana, gerou esgotamento e provocou um contragolpe simbólico. O domingo de mobilização em todas as capitais mostrou vigor popular, mostrou que a paciência se rompeu e que a disputa do imaginário não está perdida.

Aqui entra a centralidade da cultura. Não é apenas um detalhe estético: é a cultura que está dando tração à disputa simbólica de nosso tempo. Foram os artistas, os músicos, os poetas e os trabalhadores da arte que costuraram as pautas mais caras ao povo brasileiro, que deram unidade a uma revolta difusa.

Cultura é quem mostrou que defender o Brasil é defender o fim da escala 6×1, é lutar pela floresta de pé, é garantir que os ricos paguem mais e os pobres paguem menos, é exigir justiça social como fundamento da pátria. Essa energia criadora recoloca o campo progressista no lugar da rebeldia, da esperança e da imaginação política.

É claro que Bolsonaro, os generais e os golpistas devem estar na prisão: essa é uma reparação mínima para a democracia. Mas nossa luta é mais profunda. É uma disputa de imaginário contra a lógica de que o poder econômico, as corporações e as elites ditam o destino do Brasil. A rebeldia que tomou as ruas hoje mostrou que somos capazes de projetar outro país: um Brasil onde a riqueza produzida pelo povo trabalhador se converte em dignidade, justiça e futuro.

A extrema direita aposta no caos para confundir. Nós apostamos na cultura para criar. E foi isso que brilhou nas ruas: um povo que transforma indignação em arte, revolta em canto, dor em luta. É essa força simbólica, carregada de afeto e criatividade, que pode manter viva a chama da rebeldia progressista.

Ontem não foi apenas uma manifestação. Foi a abertura de um novo ciclo: o povo brasileiro, com sua cultura, mostrou que não vai permitir que o sistema siga disfarçado de antissistema. O Brasil mostrou que não há sistema mais poderoso que a criatividade de seu povo. E que quando a cultura chama, a história responde.

João Paulo Mehl

Atua em cultura digital, sustentabilidade e fomento cultural. Coordena projetos na UFPR, no Soylocoporti, no Terraço Verde e no Propulsão Cultural.

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