A Organização das Nações Unidas divulgou recentemente um relatório em que acusa Israel de cometer genocídio contra a população palestina na Faixa de Gaza. O documento responsabiliza diretamente o presidente Isaac Herzog, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant, além de outras figuras de alto escalão, não apenas pela execução de atos genocidas, mas também pela incitação pública ao extermínio.
A investigação, conduzida pela Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre os Territórios Palestinos Ocupados, analisou os acontecimentos desde outubro de 2023 e concluiu que Israel praticou quatro atos que configuram genocídio. Entre eles estão o assassinato em massa de palestinos, a imposição de condições de vida insustentáveis que ameaçam a sobrevivência da população, a violência física e psicológica sistemática e até mesmo medidas destinadas a impedir nascimentos dentro do grupo. O relatório reforça que não se trata apenas de uma ofensiva militar contra o Hamas, mas de uma política de destruição voltada contra todo o povo palestino.
Os números evidenciam a escala da tragédia: quase 65 mil palestinos foram mortos em Gaza desde o início da ofensiva israelense, de acordo com o Ministério da Saúde local, que aponta mulheres e crianças como a maioria das vítimas. Hospitais, escolas, abrigos, casas e até áreas consideradas zonas de segurança foram bombardeadas. Relatos confirmam o assassinato de civis desarmados, inclusive crianças carregando bandeiras brancas, além do uso de munições de grande impacto em regiões densamente povoadas, em plena consciência de que resultariam em mortes indiscriminadas.
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A comissão também destacou o bloqueio prolongado de ajuda humanitária, que se intensificou após os ataques de outubro de 2023. Água, comida, eletricidade e medicamentos foram transformados em armas de guerra, privando a população civil do mínimo necessário para sobreviver. Em 2025, a ONU chegou a declarar estado de fome em Gaza, alertando que centenas de milhares de pessoas estavam em risco imediato. Crianças sofrem de desnutrição, atraso no desenvolvimento da fala e traumas irreversíveis, e recém-nascidos passaram fome devido à recusa de entrada de fórmulas e leite infantil.
A violência, entretanto, não se limita ao uso de bombas e bloqueios. O relatório denuncia o uso sistemático da violência sexual por parte das forças israelenses, incluindo estupro, tortura sexualizada e outras práticas de gênero com o objetivo de humilhar e fragmentar a população palestina. Testemunhos de detentos confirmam abusos brutais em centros de detenção.
O documento sustenta que as declarações de líderes políticos e militares israelenses ao longo do conflito demonstram a intenção clara de destruir os palestinos enquanto grupo. Ao atribuir esses atos e discursos ao Estado de Israel, a comissão reforça que não se trata de ações isoladas, mas de uma política oficial de caráter genocida.
Resposta
A resposta de Israel foi a rejeição imediata das conclusões, acusando a ONU de parcialidade e pedindo a dissolução da comissão. No entanto, o peso das evidências e a gravidade das acusações vêm ampliando o isolamento diplomático de Israel e alimentando o debate sobre sanções, embargos comerciais e a suspensão do fornecimento de armas por parte da comunidade internacional.
Movimentos sociais, entidades de direitos humanos e governos progressistas em diferentes partes do mundo já intensificam a pressão para que sejam tomadas medidas urgentes. Para eles, a continuidade da guerra em Gaza, diante de um relatório oficial da ONU que caracteriza os acontecimentos como genocídio, representa não apenas uma falha moral, mas também uma grave omissão legal da comunidade internacional.
A denúncia da ONU não deixa dúvidas: o que acontece em Gaza não é apenas um conflito armado, mas a tentativa sistemática de destruir um povo.
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