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Série revisita trajetória do ator Sérgio Mamberti

(Foto: Celso Tavares/G1)

A memória é também um palco por onde transitam vozes, imagens e silêncios que compõem a vida de um artista. É desse movimento que nasce Sérgio Mamberti, Memórias de um Ator Brasileiro, série documental dirigida por Evaldo Mocarzel, que revisita a trajetória do ator, diretor e gestor cultural falecido em 2021. Com três episódios, a produção estreia em 26 de setembro de 2025, às 22h, no SescTV, tem exibição semanal, e fica disponível na íntegra no site do canal e na plataforma e app Sesc Digital.
 

Mais do que um registro biográfico, a série apresenta um percurso em primeira pessoa, a partir de depoimentos de Mamberti e de extenso material de arquivo. Entrelaçam-se ali a história do teatro brasileiro, a resistência política, a cena cultural dos anos 1960 e 1970 e a intimidade de um artista que nunca separou vida e obra.
 
No primeiro episódio, o ator retorna à infância em Santos, no litoral paulista, onde o Clube de Cinema organizado por seu pai lhe apresentou mitos da cena brasileira, como o ator, diretor e dramaturgo Procópio Ferreira e a cantora Nora Ney. Foi também nesse período que, aos doze anos, conheceu a jornalista e escritora Patrícia Galvão, a Pagu, figura central na formação de seu olhar crítico.
 
Aos 17, mudou-se para São Paulo. Frequentava o Teatro de Arena, a Biblioteca Mário de Andrade e os bares onde bebiam José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi e uma geração decidida a reinventar a dramaturgia nacional. Ingressou na Escola de Arte Dramática da USP, a EAD. Fundada em 1948, a escola era referência nas discussões sobre o teatro moderno e se posicionava como peça central da dramaturgia paulistana.
 
A estreia profissional de Mamberti aconteceu em 1964, em meio ao Golpe Militar, na montagem de “O Inoportuno”, de Harold Pinter, sob a direção de Antônio Abujamra. Em apenas três anos de carreira, o ator recebeu o prêmio Saci — um dos mais cobiçados da época. Reconhecido pela crítica e pelo público, cultivou amizades duradouras no meio teatral, como Cacilda Becker, Walmor Chagas e o mestre polonês Zbigniew Ziembinski, arquiteto da encenação moderna no Brasil, por quem nutria devoção.
 
Os anos de censura e perseguição marcaram sua atuação política.

Durante o período da ditadura, o teatro assumiu a vanguarda da resistência, porque era um teatro extremamente politizado

recorda Mamberti.

Filiado ao Partido Comunista, esteve em montagens como “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos, e “O Balcão”, do francês Jean Genet, encenado pelo dramaturgo argentino Victor Garcia. Carregadas de crítica social, essas obras se tornaram símbolos de contestação e alvo frequente da repressão.


 
O segundo episódio da série conduz o espectador à casa de Mamberti no bairro da Bela Vista, em São Paulo. O espaço, aberto a artistas e intelectuais, transformou-se em ponto de encontro da contracultura. Uma casa de portas abertas, por onde transitavam nomes como Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, os Novos Baianos, entre outros. Foi lá que recebeu a companhia anarquista norte-americana Living Theatre, cuja proposta de revolução sexual e dissolução das fronteiras entre arte e vida influenciou decisivamente sua geração.
 
Paralelamente ao teatro, Mamberti consolidava sua carreira no cinema, tornando-se um rosto familiar na filmografia marginal e autoral brasileira. Seus personagens em obras como “Toda Nudez Será Castigada” (1973), de Arnaldo Jabor, “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), de Rogério Sganzerla, “Maldita Coincidência” (1979), de Sergio Bianchi, e “Brava Gente Brasileira” (2000), de Lúcia Murat, testemunhavam sua versatilidade nas telas. Cinéfilo voraz, o ator revela que assistia de oito a dez filmes por semana e nutria o desejo silencioso de dirigir.
 
O episódio final da série remonta a uma experiência em Londres, nos anos 1970, ao lado de Gilberto Gil. A cena — um ritual lisérgico com mescalina — tornou-se profecia: em um futuro ainda distante, ambos estariam juntos na reconstrução da política cultural brasileira.

Décadas mais tarde, no Ministério da Cultura de Gil (2003-2008), Mamberti foi Secretário de Políticas Públicas para Música e Artes Cênicas, ministro interino em diversas ocasiões e representante do país em fóruns internacionais, realizando, com um sorriso irônico, o desejo antigo de seu pai de vê-lo como diplomata. Esteve também à frente do extinto Teatro Crowne Plaza, em São Paulo, que se destacou por promover shows a preços populares e revelar novos nomes da música brasileira, como Cássia Eller, Zélia Duncan e Chico César.
 
Apesar da intensa atuação como gestor, Mamberti nunca deixou de se reconhecer, antes de tudo, como ator.

O ator tem uma função social, ele tem esse efeito multiplicador

reflete.

Seus cadernos de colagens, utilizados como parte do processo criativo, revelam a disciplina com que construía personagens. Mesmo presente na televisão — em diversas novelas e na marcante série infantojuvenil Castelo Rá-Tim-Bum — e no cinema, ele mantinha o teatro como núcleo de sua trajetória e era categórico em sua fala:

O teatro é a arte do ator

afirmou.


 
A série se encerra com uma visita de Mamberti ao Teatro Ruth Escobar, onde encenou a peça “O Balcão” por dois anos. O espaço se torna metáfora de um ciclo que se completa. SÉRGIO MAMBERTI, MEMÓRIAS DE UM ATOR BRASILEIRO ilumina uma vida dedicada à cena, marcada pela resistência, pela paixão e pela crença inabalável no poder transformador do palco.
 
SERVIÇO
 

SÉRGIO MAMBERTI, MEMÓRIAS DE UM ATOR BRASILEIRO 
Série documental
Direção: Evaldo Mocarzel
Conteúdo: 3 episódios
Duração aproximada: 50 min
Classificação indicativa: 14 anos
Estreia: 26 de setembro, sexta-feira, às 22h
 

Assista em sesctv.org.br/mamberti e sesc.digital 
Baixe o app Sesc Digital, disponível gratuitamente nas lojas Google Play e App Store.

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Redação BFC

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