Nos primeiros dias da Covid, uma dona de casa foi uma das vítimas iniciais daquilo que viria a se transformar na maior tragédia sanitária de nossos tempos. Depois, começaram os enfermeiros e enfermeiras, os médicos, pescadores, aldeias indígenas invadidas pelo homem branco. Vizinhos, parentes, pessoas do outro lado do mundo, pedindo ar, perdendo ar.
Enquanto cemitérios jogavam corpos sobre corpos, um homem sorria e espalhava mentiras, andava pelo Brasil de moto, tossindo na cara de crianças, oferecendo vermífugo para emas, imitava gente sem ar e negava vacina para uma doença mortal.
Jair Bolsonaro sempre deixou claro que sua especialidade era matar, e assim foi feito.
Infelizmente, diante de instituições longe de seu pleno funcionamento, aparelhadas por pessoas que tinham simbiose com a pulsão de morte do então presidente da República, nada fizeram.
Estudos sólidos apontaram que Bolsonaro e seus discursos foram responsáveis por centenas de milhares de corpos; uma CPI foi aberta e especialistas tiveram o desprazer de ouvir políticos de extrema-direita afirmando mentiras mesmo diante de vastas provas da culpa de seu chefe.
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Enquanto cinco mil pessoas por dia (fora as milhares de subnotificações) morriam, Bolsonaro e família enriqueciam, compravam mansões e pareciam plenamente felizes com a situação.
Blindado por um Procurador Geral que lavava suas mãos em troca de um cargo, Bolsonaro matou e pretendia matar mais. Disposto a não abandonar o poder, planejava um golpe de Estado, caso perdesse a eleição. Perdeu, e com outros juízes, outra Polícia Federal, quilômetros de provas deixadas por ele e seus asseclas, foi investigado, culminando em sua condenação como líder de quadrilha criminosa, tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de direito.
Felicidade, alívio? Não sei. É direito comemorar, mas “a cadela do fascismo está sempre no cio” e “os mortos não levantam mais”.
Não devemos confundir essa condenação com justiça. Justiça real seria ele ter caído durante a pandemia e termos ainda entre nós milhares daqueles que se foram.
Que ele cumpra a pena numa cela, até o fim de sua vida. Será o mínimo se o Brasil quiser provar que ainda tem jeito
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