Mensagens privadas entre Jair Bolsonaro (PL) e seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), obtidas pela Polícia Federal, jogaram luz sobre uma crise política dentro do campo bolsonarista. O foco da tensão é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que aparece como alvo de críticas diretas do filho do ex-presidente.
As conversas ocorreram em julho deste ano, período marcado por desgaste para Bolsonaro, investigado por sua atuação na tentativa de ruptura institucional entre 2022 e 2023. No diálogo, Eduardo reclama que Tarcísio nunca teria se empenhado em ajudá-lo no Supremo Tribunal Federal (STF), justamente onde o ex-presidente enfrenta acusações graves. Segundo Eduardo, o governador paulista preferiu “cruzar os braços” e já estaria se movimentando para 2026, de olho em uma candidatura presidencial.
Ele nunca fez nada por você no STF. Ficou assistindo de longe, esperando a hora dele
escreveu Eduardo ao pai, demonstrando preocupação com a ascensão política de Tarcísio dentro do campo da direita.
Para o deputado, aliados do governador estariam tentando consolidar a narrativa de que “Tarcísio é Bolsonaro”, algo que poderia enfraquecer o protagonismo da família.
Outro ponto que incomodou Eduardo foi a aproximação de Tarcísio com representantes dos Estados Unidos. Dias antes da troca de mensagens, o governador se reuniu com o diplomata Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília. O gesto, segundo o filho de Bolsonaro, soou como uma tentativa de Tarcísio de se projetar como interlocutor internacional e alternativa confiável para o mercado e para Washington.
Agora ele quer posar de salvador da pátria
disse Eduardo.
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O deputado ainda deixou claro que a possível candidatura de Tarcísio em 2026 não resolveria os problemas da família Bolsonaro. Na visão dele, isso só atenderia aos interesses de setores econômicos poderosos, como os ligados à Faria Lima.
O próprio Jair Bolsonaro também deixou escapar críticas veladas ao governador paulista. Em uma gravação enviada ao pastor Silas Malafaia, datada de 13 de julho, o ex-presidente afirmou que “não adianta um ou outro governador querer ir para os Estados Unidos ou embaixadas tentar sensibilizar”, em referência indireta a Tarcísio.
Curiosamente, o pastor Malafaia, que mantém proximidade com Bolsonaro, rebateu em áudio afirmando que o encontro entre Tarcísio e a embaixada americana teria sido incentivado pelo próprio ex-presidente. Segundo Malafaia, Bolsonaro pediu que o governador fizesse a ponte com autoridades internacionais e até com o ministro Gilmar Mendes, do STF.
O episódio revela não apenas desconfiança, mas um verdadeiro embate interno sobre quem herdará o espaço da direita bolsonarista nos próximos anos. Enquanto Jair Bolsonaro enfrenta processos que podem inviabilizar sua presença no pleito de 2026, Tarcísio surge como um nome competitivo, bem avaliado no eleitorado paulista e visto por parte da elite econômica como alternativa viável.
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