A Polícia Federal (PF) revelou nesta quarta-feira (20) mais um capítulo das investigações envolvendo Jair Bolsonaro (PL). Os agentes encontraram no celular do ex-presidente um documento de 33 páginas no qual ele redige uma carta endereçada ao presidente da Argentina, Javier Milei, pedindo asilo político. O material, de acordo com os investigadores, foi editado pela última vez em fevereiro deste ano e traz trechos em que Bolsonaro se descreve como vítima de perseguição no Brasil.
O texto chama a atenção não apenas pelo conteúdo, mas também pelo contexto em que foi produzido. Segundo a PF, o rascunho foi salvo no celular de Bolsonaro dois dias antes da operação Tempus Veritatis, deflagrada para apurar a atuação de uma organização criminosa responsável por planejar um golpe de Estado e enfraquecer o Estado Democrático de Direito.

Operação e restrição de passaporte
Na mesma ocasião, Bolsonaro foi alvo de medidas determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), entre elas a entrega de seu passaporte, justamente para impedir possíveis tentativas de deixar o país.
Os investigadores também destacam que o rascunho foi produzido próximo à data de uma viagem que o ex-presidente já havia planejado. Em dezembro de 2023, Bolsonaro comunicou ao STF que viajaria à Argentina entre os dias 7 e 11 daquele mês para acompanhar a posse de Javier Milei. Para os investigadores, a edição do documento dois dias antes da operação sugere que ele poderia estar preparando uma rota de fuga caso as investigações avançassem.
Indiciamento de Bolsonaro e do filho
A descoberta do texto coincidiu com o indiciamento, pela PF, de Jair Bolsonaro e do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Os dois são acusados de coação no curso de processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito por meio da restrição ao exercício dos poderes constitucionais.
As apurações indicam que Eduardo teria mantido articulações com representantes norte-americanos para adotar medidas que impactassem ministros do STF e outras autoridades no Brasil.
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Suspeita de fuga e novas implicações
Segundo a PF, o material encontrado não se trata apenas de um rascunho, mas de uma evidência de que Bolsonaro poderia ter considerado uma saída do país para se proteger de ações legais. Em relatório, a corporação destacou que a carta teria servido como instrumento para uma eventual solicitação formal de asilo em Buenos Aires, caso as investigações avançassem contra ele.
Bolsonaro responde a diversas apurações no Supremo, com destaque para a ação penal sobre a denominada ‘trama golpista’. A nova descoberta amplia o alcance das apurações e pode trazer complicações adicionais para sua defesa.
O que diz a defesa
Até o momento, a equipe jurídica do ex-presidente não se manifestou sobre o conteúdo encontrado no celular nem sobre o indiciamento desta semana. Bolsonaro, por sua vez, segue alegando ser alvo de perseguição política.
Com a revelação da carta e o avanço das investigações, cresce a pressão sobre o ex-presidente, que se vê cada vez mais enredado em frentes jurídicas e políticas ao mesmo tempo.
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