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Seria exagero comparar o bolsonarismo com o nazismo?

Nazismo e bolsonarismo: mesmo lado da moeda? (Imagem: Reprodução)

Durante os ridículos atos protagonizados por deputados bolsonaristas na Câmara, censurando a possibilidade de outros trabalharem, eles taparam a boca com esparadrapo numa tentativa patética de alegarem eles mesmos serem vítimas de censura.

Veja bem, desde que Bolsonaro começou com a narrativa de que há uma ditadura em vigência no país, seus asseclas compram e vendem a ideia de serem vítimas de cerceamento de opinião, o que para qualquer cidadão consciente desse país, é um absurdo, visto que eles seguem falando impropérios diariamente sem serem presos ou torturados como se faz em uma ditadura real.

Quem alegou censura por não poder falar, muito tempo atrás, foi Adolf Hitler. E aqui, antes que achem que há uma comparação exagerada, vamos relembrar a história. Há cerca de um século, um cartaz do cartunista Philipp Rupprecht,  conhecido pelo pseudônimo “Fips” e por suas charges antissemitas na revista nazista Der Stürmer — circulou na Alemanha com uma mensagem distorcida:

(Imagem: Reprodução)

Um só, entre 2 bilhões de pessoas na Terra, não tem permissão para falar na Alemanha!

A imagem, que retrata Adolf Hitler como uma vítima silenciada, foi criada após o futuro ditador ser proibido de discursar no país em 1925, devido a restrições legais impostas pela República de Weimar.

Nessa época (1923-1925) Hitler já era  líder do Partido Nazista e foi preso após o fracassado Putsch da Cervejaria (tentativa de golpe em Munique). Seus discursos reacionários já eram vistos como perigosos e como golpista que era, foi condenado por traição e teve seu direito de falar publicamente revogado até 1927.

O pôster de Rupprecht reforçava a narrativa nazista de que Hitler era “perseguido” pelo sistema, enquanto invertia a realidade: eram os nazistas que censuravam, agrediam e caluniavam opositores, especialmente judeus e comunistas. Basicamente os nazistas investiram forte na vitimização e distorção da realidade. E assim foi até o fim, com o discurso de que eram salvadores perseguidos por um sistema que não queria ver a Alemanha grande.

Eis que em 2025, o mesmo discurso e o mesmo símbolo da boca atada é usado e distorcido novamente por um movimento igualmente extremista: o bolsonarismo.

Não é a primeira vez que bolsonaristas usam o nazismo como inspiração. Em 2020, logo no início do governo Bolsonaro, o então secretário de Cultura do, Roberto Alvim, ao som de Richard Wagner, o compositor favorito de Adolf Hitler, plagiou em pronunciamento que foi ao ar nas redes sociais trechos de um discurso do ministro da Propaganda do führer nazista, Joseph Goebbels.

(Imagem: Reprodução)

A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa […] ou então não será nada

diz Alvim no vídeo.

O líder nazista havia dito:

A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa (…) ou então não será nada

Em 2021, o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins apareceu na TV Senado fazendo um gesto de “OK” com as mãos, mas com três dedos retos, em forma de W. O gesto é classificado pela Liga Antidifamação (ADL), entidade com sede nos Estados Unidos, que combate o antissemitismo, como forma de identificação entre supremacistas brancos.

Enquanto os jornais hegemônicos aprenderam a normalizar e relativizar a ascensão do bolsonarismo, evitando por muito tempo nomear o movimento como extrema-direita, deputados e influenciadores ganharam notoriedade repetindo discursos de ódio, xenofóbicos, racistas e misóginos. Talvez pelo distanciamento histórico, nos acostumamos a ver o nazismo como hediondo, mas ainda não apreendemos o que estamos vivendo com o bolsonarismo no Brasil.

Pouco antes da eleição de 2018, o saudoso Mestre Moa do Katendê foi assassinado por um bolsonarista que não concordava com seu posicionamento político. Em 2022, o guarda municipal Marcelo Arruda foi morto por um bolsonarista por comemorar o próprio aniversário com a temática do PT. E bem, no BFC já falamos muito sobre a tentativa de golpe do 8 de janeiro. Ainda assim tende-se a evitar comparações, mesmo que a própria figura inspiradora do bolsonarismo tenha em seu histórico dezenas de falas autoritárias, violentas e golpistas.

Durante a pandemia, assim como os pseudocientistas nazistas, os bolsonaristas pregavam experimentos médicos com vermífugos e antibióticos para combater um vírus mortal, negaram a eficácia de vacinas e viram com deboche a morte de 700 mil pessoas (provavelmente foram mais).

O deputado federal mais truculento da Câmara atualmente, Paulo Bilinsky, se orgulha do avô nazista lutando contra comunistas na Segunda Guerra, Paraquedistas, vestidos com roupas militares, entoam uma variação de Heil Hitler a partir do grito de ‘Bolsonaro somos nós’, Bolsonaro bebendo copo de leite, importando um ritual de supremacistas brancos estadunidenses, Sara “Winter”, bolsonarista ferrenha, escolheu o apelido para homenagear Sarah Winter, uma espiã nazista e integrante da União Britânica de Fascistas.

Enfim, são muitos indícios, provas, mas que a grande mídia prefere tratar apenas como tosquice passageira ou exagero de uma militância esquerdista. Fingem que assim como os nazistas desumanizavam judeus e glorificavam Hitler como mártir político, o bolsonarismo não desumaniza tudo que não é hetero-branco-cristão enquanto incitam a violência e alimentam pulsão de morte.

Se o fascismo e o nazismo são fenômenos sociológicos e históricos baseados apenas em um único local no tempo, com características bem específicas, o bolsonarismo pode ser chamado, talvez, de um neofascismo, onde adquiriu características próprias para operar dentro de uma sociedade cada vez mais bombardeada com propaganda neoliberal, agora sob a indiferença assassina das Big Techs e de figuras grotescas como Bolsonaro.

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Aquiles Marchel Argolo

Participante

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