Um dado preocupante chama atenção na pesquisa Brasil no Espelho, da Globo, realizada pela Quaest Consultoria e Pesquisa e divulgada na última semana: em 21% dos lares brasileiros o pai está ausente. O número revela não apenas mudanças nos arranjos familiares, mas também a persistência de um problema estrutural: a falta de compromisso paterno no cuidado e na criação dos filhos.
A pesquisa mostra também que a centralidade da família permanece inquestionável na vida dos brasileiros: 96% consideram a família a coisa mais importante da vida, e 89% afirmam que suas decisões são tomadas pensando nos familiares. Mas a realidade mostra que muitas vezes essa responsabilidade recai de forma desigual. As mulheres, sobretudo mães solo, continuam sendo o pilar de milhões de lares, acumulando funções de cuidado, sustento e educação.
- Brasil no Espelho: estudo da Globo revela um retrato atual do brasileiro
- 85% dos brasileiros têm orgulho do país, aponta estudo
- Curitiba recebe o 4º Festival Inclusão em Cena com cultura, tecnologia e protagonismo PcD
Ao mesmo tempo, o conceito de família tem se transformado. Para 90% dos brasileiros, o que define uma família é o amor, independentemente do modelo ou da configuração. Esse entendimento mais amplo ajuda a legitimar arranjos familiares diversos, como os formados apenas por mães e filhos, que hoje representam 17% das famílias no país.
Ainda que o modelo tradicional de casal com filhos siga predominante (40%), ele vem perdendo espaço em relação a 2019 (42%). Outros formatos, como pessoas vivendo sozinhas (12%) ou famílias multigeracionais com avós, netos e pais sob o mesmo teto, também aparecem com relevância.
O dado sobre a ausência paterna, porém, expõe uma ferida aberta: a paternidade no Brasil ainda é marcada por altos índices de abandono. Mais do que um retrato cultural, o número aponta para a necessidade de políticas públicas de apoio à parentalidade responsável, proteção às mães solo e fortalecimento da rede de cuidado coletivo.
Se, por um lado, a pesquisa mostra que a família segue sendo um espaço de afeto, confiança e pertencimento, quando 80% dizem que família é quem está presente, mesmo sem laços de sangue, por outro, revela que esse ideal precisa ser sustentado por uma prática mais justa, em que homens assumam de fato sua responsabilidade.
Bookmark